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Refugiados tornam-se guardiões de florestas na Guatemala

Por ACNUR

Ameaças de facções, violência extrema e perseguição no norte da América Central forçaram cerca de 720 mil pessoas na região a fugir de suas casas. Elas buscam segurança em partes mais afastadas do país ou mesmo no exterior. Até dezembro de 2019, cerca de 121.300 hondurenhos haviam solicitado asilo ou refúgio no exterior, segundo estatísticas da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

Josué* e Alejandro* fazem parte de um grupo de nove solicitantes de refúgio e refugiados que foram contratados e treinados para trabalhar como guardas florestais no sistema nacional de parques da Guatemala. Além das florestas tropicais na região nordeste de Petén, que constituem a maior área protegida da América Central, o sistema inclui três reservas da biosfera reconhecidas pela UNESCO e espetaculares ruínas maias.

Conheça a história destes jovens que ousaram resistir ao recrutamento de facções e conseguiram um emprego estável em meio a tantos desafios.

Embora seu dia de trabalho comece junto com o nascer do sol, Josué não precisa programar o despertador. Os sons estridentes do amanhecer na floresta são mais do que suficientes para despertar o jovem de 19 anos. Josué é um guarda florestal recém-formado que agora trabalha em um dos locais mais biodiversos do mundo: o Parque Nacional El Mirador, na Guatemala.

Josué é solicitante de refúgio. Ele fugiu de uma das cidades mais perigosas de Honduras. Para ele, o novo emprego como guarda florestal é um sonho que virou realidade.

“Quando eu era pequeno, costumava assistir programas de natureza na TV. Eram os meus favoritos. Esse trabalho é como estar dentro de um destes programas e eu sempre sonhei em fazer isso”, disse o jovem, que foi forçado a fugir de seu país aos 16 anos. Ele recusou as tentativas de uma gangue de recrutá-lo e, como consequência, sofreu um ataque brutal que quase lhe custou a vida.

Como guardas florestais, eles são responsáveis ​​pela manutenção das trilhas usadas pelos visitantes e por monitorar a flora e fauna nativas, o que envolve animais ameaçados, como as antas de Baird e a arara escarlate, além de pumas e onças.

Os guardas passam 15 dias dentro dos parques, dormindo em acampamentos rudimentares, antes de voltar para casa para passar 15 dias de folga.

Em sua primeira operação no Parque Nacional Dos Lagunas, Alejandro encontrou pegadas de patas e um pedaço de grama emaranhada repleta de penas de faisão. Ele acredita que um grande gato passou por lá assentou e fez sua refeição matinal. O acontecimento emocionou Alejandro. O jovem de 21 anos trabalhou no ramo da construção em Honduras antes de também ter sido alvo de violência por se recusar a se juntar a uma das facções armadas que aterrorizam os moradores locais.

Os jovens são especialmente vulneráveis. Ousar resistir ao recrutamento em uma facção – como Josué e Alejandro fizeram – pode significar uma sentença de morte. Depois que se recusou a fazer parte da gangue, Josué foi perseguido e alvejado por tiros. Ele foi atingido, mas sobreviveu aos ferimentos. “Sair de Honduras foi uma jornada muito dura para mim, mas foi uma questão de vida ou morte”, relembrou.

Alejandro se deu conta de que não tinha escolha a não ser fugir quando um membro de uma facção disse a ele: “Ou você faz parte ou nós vamos buscar você e sua família”. Seus familiares fugiram primeiro, para a Guatemala, e Alejandro fez o mesmo logo em seguida.

Encontrar um emprego costuma ser um grande obstáculo para quem é forçado a deixar para trás seu país e redes de apoio. Mas a atual pandemia de coronavírus, dificultou ainda mais a busca por um emprego estável para solicitantes de refúgio como Josué e Alejandro.

Oportunidade

Para eles e outros solicitantes de refúgio e refugiados contratados como guardas florestais, os empregos representam uma luz no fim do túnel – uma rara oportunidade de sustentar suas famílias e contribuir para as comunidades anfitriãs em meio à pandemia. Eles foram contratados pelo Empleos Verdes, ou Green Jobs, um programa da organização ambiental FUNDAECO e do grupo de defesa de crianças El Refugio de la Niñez. O programa recebe apoio do ACNUR.

Para o coordenador da El Refugio de la Niñez, Abel Santos, esta é uma grande oportunidade. “Os guardas do parque protegem algo que pertence a toda a humanidade.”

Alejandro concordou com a fala do coordenador e acrescentou: “Nosso trabalho é realmente importante. Estamos salvando a vida dos animais e protegendo os recursos que pertencem a todos”.

A Guatemala é um dos países mais biodiversos do mundo, de acordo com a Rainforest Alliance, uma organização dedicada a preservar as florestas tropicais remanescentes do mundo. Mas, infelizmente, o grupo diz que o que chama de “impressionante diversidade de vida vegetal e animal” da Guatemala está ameaçada pelo desmatamento, pela extração ilegal de madeira e pelo comércio ilícito de animais silvestres, além das mudanças climáticas.

Ciente dos perigos que corre o parque nacional onde atua, Alejandro diz acreditar que seu novo trabalho é ainda mais importante. “Estamos fazendo isso para que as gerações futuras possam ver todas as plantas e animais que temos aqui”, disse ele.

*Nomes alterados devido às ameaças enfrentadas pelos solicitantes de refúgio.

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