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Mudança climática exige adequação dos portos

Do R7, com Reuters

Leopoldo Figueiredo
Enviado especial a Austin

Os portos devem se preparar para os reflexos das mudanças climáticas globais, adequando sua infraestrutura à intensificação de ressacas e ventos, por exemplo. Tais fenômenos acabam por reduzir a vida útil de costados, obras de proteção costeira e até equipamentos de movimentação de cargas, consequentemente prejudicando o potencial econômico dos complexos marítimos. No caso do Porto de Santos, a maior preocupação é com ondas e ventos cada vez mais fortes e ressacas mais frequentes.

O alerta foi feito pelos professores Ben Hodges e Lance Manuel, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental e Arquitetura do Campus de Austin da Universidade do Texas (Estados Unidos). Nos últimos anos, eles têm pesquisado os impactos das mudanças climáticas nos complexos portuários, especialmente no de Houston, o principal do estado norte-americano e da região do Golfo do México e o sexto mais importante no país. 

Estes e outros trabalhos científicos feitos por Hodges e Manuel para o segmento portuário foram apresentados por eles a empresários do Porto de Santos e autoridades brasileiras na última quinta-feira, quando o grupo esteve no Campus de Austin da Universidade do Texas, a fim de conhecer pesquisas realizadas pela instituição de ensino para o complexo de Houston. 

O porto havia sido visitado pela comitiva nos dois dias anteriores, quando se reuniu com dirigentes da autoridade portuária e executivos de companhias. 

A agenda no Porto de Houston e no polo tecnológico de Austin complementa a programação do Porto & Mar – Seminário A Tribuna para o Desenvolvimento do Porto de Santos, realizado pelo Grupo Tribuna no último mês de junho, em Santos. O corpo consular dos Estados Unidos no Brasil, o Departamento de Comércio do governo americano e a Câmara de Comércio Brasil Texas (Bratecc) ajudaram na organização da viagem.

Universidade

Na reunião com pesquisadores da Universidade do Texas, a comitiva do Porto & Mar 2019 conheceu detalhes de estudos promovidos pela instituição de ensino, uma das principais dos Estados Unidos, sobre o Porto de Houston, seu canal de navegação e o setor portuário global. Pelo menos três desses projetos acadêmicos abordam as mudanças climáticas provenientes do aquecimento global e seus efeitos, como o aumento do nível do mar.

Inundações e furacões reduzem PIB em 5%

Engenheiro profissional e doutor em Engenharia, Manuel destacou sua pesquisa sobre o impacto das alterações nos padrões climáticos na infraestrutura de países em desenvolvimento e na geração de suas riquezas. As conclusões foram apresentadas a membros do Banco Mundial no final do ano passado.

“É evidente que eventos naturais como furacões, inundações, fortes ressacas e tempestades estão se tornando mais frequentes e intensos. E eles acabam afetando a infraestrutura dos países e prejudicando sua capacidade produtiva e, como consequência, seu Produto Interno Bruto (PIB)”, diz ele.

“Minha pesquisa mostra que os impactos são bem negativos e não são rapidamente eliminados. Daí a necessidade de os governos se preocuparem em proteger sua infraestrutura, adotar planos de resiliência. Proteger portos, rodovias, ferrovias das mudanças climáticas é proteger a própria economia”, explicou.

De acordo com seu estudo, em alguns casos, inundações e furacões que atingiram países em desenvolvimento chegaram a reduzir o PIB do ano em que ocorreram em até 5%.

Ressacas e ventos 

Em relação ao Porto de Santos, sua infraestrutura pode ser afetada principalmente pela intensificação de ressacas e ventos mais fortes, fenômenos causados pelo aumento do nível do mar e o aquecimento global, afirmou Lance Manuel. “Santos é o principal porto do País. Sua infraestrutura deve ser protegida. É a economia brasileira que está em jogo”, destacou.

Os pesquisadores reconhecem que, enquanto nações desenvolvidas já adotam medidas para as mudanças climáticas (portos dos Países Baixos, dos Estados Unidos, do Japão e da China já têm planos de resiliência climática), países em desenvolvimento não têm se preocupado, principalmente por terem problemas de impacto a curto prazo, como a necessidade de ampliar ou mesmo modernizar rodovias, ferrovias, portos e usinas de energia. Mas tal cenário não desculpa a falta de ações, argumentam. 

“Mesmo considerando que os efeitos do aquecimento global ficarão mais graves e críticos em algumas décadas, eles já são sentidos. Esses impactos já acontecem. As mudanças climáticas são uma realidade, as ressacas e furacões já estão mais frequentes. E, no caso dos portos, o cais, os equipamentos de movimentação de cargas já sofrem um maior desgaste. Cabe às autoridades começar a se preparar”, alertou o professor-doutor Ben Hodges, que estuda como o aquecimento global tem afetado instalações marítimas.

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