Cuidado com a água que bebe. Banco Mundial alerta para poluição “invisível” da água
Por TSF
O planeta está a enfrentar uma crise crescente e “invisível” de poluição da água, de acordo com um relatório do Banco Mundial, publicado esta semana, que afirma que os culpados são a mudança climática e o crescimento populacional.
O estudo que reúne o maior banco de dados de poluição da água do mundo, divulgado pelo jornal The Guardian , avalia como é que uma combinação de bactérias, água do esgoto, produtos químicos e plásticos estão a roubar o oxigénio do abastecimento de água e a transformá-la em veneno para as pessoas e os ecossistemas.
Embora a atenção, até agora, tenha estado mais focada na questão da quantidade da água, a emergência climática tem tido também efeitos na qualidade da água.
“Quando se fala sobre qual é a causa deste problema, há duas questões. A primeira é a mudança climática, que afeta a quantidade e a qualidade da água. A segunda é o crescimento populacional e a produção. O debate focou-se sempre na questão da quantidade, mas torna-se óbvio, quando olhamos debaixo da superfície, que existem milhares de poluentes”, garante Richard Damania, assessor económico sénior do Banco Mundial e o principal autor do relatório.
Os autores do relatório utilizaram uma variedade de tecnologias para estudar o problema, incluindo imagens de satélite das principais proliferações de algas e inteligência artificial para avaliar os dados registados. Os investigadores analisaram, em particular, a chamada “carência bioquímica de oxigénio” (CBO), para avaliar a quantidade de poluição orgânica presente na água, usando-a como um indicador da qualidade geral da água.
Os cientistas observaram que quando a CBO ultrapassa um certo limite, o crescimento do PIB em áreas afetadas pelo problema cai até um terço devido ao impacto sobre a saúde, a agricultura e os ecossistemas.
Um dos principais contribuintes para a má qualidade da água é o nitrogénio, que, aplicado como fertilizante na agricultura, entra nos rios, lagos e oceanos, onde se transforma em nitratos.
“Descobrimos que a poluição da água é um problema que afeta tanto os países ricos como os pobres, no entanto, a mistura de produtos químicos muda há medida que os países se desenvolvem. Nos países pobres, são as bactérias fecais e, com o aumento do PIB, é o nitrogénio (nos fertilizantes) que se torna o problema”, clarificou o autor.
O relatório observa que mesmo os países ricos ainda têm sérios problemas com a poluição da água.
“Mesmo as economias de alto rendimento com instituições com bons recursos são incapazes de lidar com estes desafios”, expõem os autores.
É apontado como exemplo o caso da contaminação do abastecimento de água potável que ocorreu na cidade de Flint, no estado do Michigan, nos EUA. “Quatro décadas após a aprovação da Lei da Água Limpa e da Lei da Água Potável, mais de 100 mil residentes em Flint foram expostos ao chumbo através da água potável.”
O estudo indica que, no caso dos Estados Unidos da América, será necessário um movimento nacional e pelo menos três anos para que a água retorne a níveis de segurança aceitáveis. “Mas não sem antes milhares de crianças terem sido, potencialmente, expostas ao dano irreversível causado pelo envenenamento por chumbo”, alerta.
Na Europa, países como a França, a Alemanha e a Grécia já foram multados pelo Tribunal de Justiça Europeu por violar os limites delimitados de nitratos. Quase um terço das estações de monitorização na Alemanha apresentam níveis de nitratos que excedem os limites legais na União Europeia.
“A água limpa é um fator-chave para o crescimento económico”, clarificou o presidente do Grupo do Banco Mundial, David Malpass. “A deterioração da qualidade da água está a prejudicar o crescimento económico, a piorar as condições de saúde, a reduzir a produção de alimentos e a agravar a pobreza em muitos países.”
“Os governos devem tomar medidas urgentes para ajudar a combater a poluição da água, para que os países possam crescer mais rapidamente de maneira equitativa e ambientalmente sustentável”, conclui.
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