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‘Queimadas em terras indígenas não são causadas por índios’, diz bispo do Pará

Um dos participantes do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, Dom Wilmar Santin, bispo prelado de Itaituba, afirmou nesta quinta-feira (10) que as terras indígenas do Pará vêm sendo pressionadas pelo garimpo e pelo desmatamento. Ele é um dos bispos da Amazônia que têm relação muito próxima com os indígenas – no seu caso o povo mundurucu.

Em conversa com o G1, Dom Wilmar explicou que a maior parte das queimadas na Amazônia é fora das terras demarcadas. E, segundo ele, mesmo quando há queimadas em terras indígenas, esses focos de incêndio não são provocados pelos próprios índios.

“Esse aumento não vem dos indígenas. Quando usam o fogo, eles colocam numa área muito pequena, só mesmo para poderem fazer a agricultura”, conta o bispo carmelita.

A terra indígena Karipuna, que tem 153 mil hectares e fica em Rondônia, é a mais ameaçada quando o critério é o número de focos no entorno do limite demarcado, segundo dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Aldeia Karipuna tem 153 mil hectares em Rondônia — Foto: Fábio Tito/G1
Aldeia Karipuna tem 153 mil hectares em Rondônia — Foto: Fábio Tito/G1

Dia do Fogo

“A maior parte das queimadas é em outros lugares, fora das terras indígenas. E foi na minha região que tivemos o tal ‘Dia do Fogo’.”

Ele se refere à recente mobilização de proprietários de terras da Amazônia, que decidiram botar fogo no mesmo dia em várias partes da floresta. “Foi aí que o ciclo da chuva que leva nuvens da Amazônia para chover em São Paulo levou fumaça e apavorou tudo”, disse Dom Wilmar.

Segundo Dom Wilmar, em sua experiência, os focos de queimadas em terras indígenas costumam ser provocados por garimpeiros ou mesmo por proprietários de terras vizinhas. A prelazia de Itaituba está no Pará, na divisa com o Mato Grosso e com o Amazonas, e tem 175 mil km².

“Normalmente, isso vem daqueles que botam fogo todo ano na pastagem. Aumentou o número de áreas de pasto, e se sempre botam fogo, então vai ter mais fogo. As derrubadas também aumentaram. Como o clima é mais seco nesta época, o fogo se espalha e entra nas terras indígenas.” – Dom Wilmar Santin, bispo prelado de Itaituba

Garimpo e divisão

De acordo com o religioso, a chegada do garimpo em áreas do povo mundurucu está causando divisões entre as comunidades indígenas, pois a maioria dos povos é contrária a essa atividade.

“Lá nos mundurucus, que conheço melhor, o problema não é tanto a queimada, mas uma certa divisão porque alguns abriram as portas para o garimpo”, explica. “O garimpo está fazendo isso. Um ou dois caciques no Rio das Tropas abriram [as terras para os garimpeiros], e aí fizeram um regaço.”

Ele suspeita que as mineradoras planejam entrar em outros rios da região, como o Cabitutu e o Cururu, o que pode causar embate novos entre os povos daquela área da Amazônia.

Dom Wilmar Santin, bispo do Pará — Foto: Filipe Domingues/G1
Dom Wilmar Santin, bispo do Pará — Foto: Filipe Domingues/G1

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