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Novo estudo indica que plásticos já invadiram ‘berçários’ de larvas de peixes

Para peixes “bebês”, a superfície do mar perto da costa é uma área rica em nutrientes, fazendo dela uma espécie de “berçário” para larvas desses animais, chamados de alevinos.

Mas o que cientistas desconfiavam foi confirmado agora em um estudo inédito: esses locais, ricos em plânctons, estão repletos também de fragmentos de plásticos flutuantes, o que ameaça a vida dos peixes em uma fase bastante vulnerável para a sobrevivência. Em uma dimensão maior, isso implica em potenciais danos para ecossistemas marinhos e até para o consumo humano de produtos vindos dos oceanos, dizem os autores do artigo, publicado esta semana no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

O achado alarmante, vindo da dissecação de animais, constatou que peixes em sua fase larval já consomem pedaços de plástico presentes na água — só havia confirmação até agora para peixes adultos.

“Peixes na fase larval são fundamentais para o funcionamento dos ecossistemas e representam as futuras populações de peixes adultos”, explicou em um comunicado à imprensa Jamison Gove, um dos autores do estudo e oceanógrafo da NOAA, órgão de pesquisa do governo americano.

“O fato destas larvas estarem rodeadas de detritos plásticos diminutos e ingerirem plásticos carregados de toxinas, em seu estágio mais vulnerável de vida, é motivo de alarme”, disse Gove.

Concentração de plástico oito vezes maior que no Grande Depósito de Lixo do Pacífico

Os pesquisadores, vinculados ao NOAA e também à Universidade do Estado do Arizona, analisaram dados e materiais de uma área de cerca de 1.000 km² na costa oeste do Havaí.

Eles focaram em corredores na superfície da água em que materiais orgânicos e inorgânicos se juntam.

“Estes corredores concentram plânctons e, portanto, fornecem um oásis de comida que é fundamental para o desenvolvimento e a sobrevivência das larvas de peixes”, disse Jonathan Whitney, ecologista marinho do NOAA e um dos autores do estudo.

Pedras na praia do Atalaia, em Fernando de Noronha, escondem lixo que vem do mar. — Foto: Fábio Tito/G1
Pedras na praia do Atalaia, em Fernando de Noronha, escondem lixo que vem do mar. — Foto: Fábio Tito/G1

Com técnicas de sensoriamento remoto, os pesquisadores detectaram, nestes corredores em comparação com águas superficiais “normais”, uma maior densidade de fitoplânctons (1,7 vezes maior); zooplânctons (3,7 vezes); e larvas de peixes (8,1 vezes). Os corredores continham também peixes com melhores habilidades para nadar, tanto em termos de velocidade quanto de duração.

Mas esses corredores também mostraram uma densidade mediana 126 vezes maior de plásticos do que outras partes das águas superficiais — e oito vezes maior do que a densidade encontrada no Grande Depósito de Lixo do Pacífico, uma massiva área de acúmulo de resíduos, boa parte plásticos, entre a Califórnia e o Havaí. Em 658 larvas de peixes dissecadas, foram encontrados partículas de plástico em 42 deles, uma ocorrência 2,3 vezes maior do que em outros tipos de águas superficiais.

“Encontramos pequenos pedaços de plástico no estômago de espécies amplamente comercializadas, como o espadarte e o dourado-do-mar, e espécies de recifes de corais como o peixe-porco”, contou Whitney.

A maior parte dos plásticos encontrados foram considerados fragmentos pequenos (menores que 5mm) — que costumam originar da decomposição de plásticos maiores, expostos por meses a anos a fatores como Sol e o sal do mar. Em relação ao tipo, a maioria foi de polímeros de polietileno e polipropileno.

“Esses polímeros são usados em itens de consumo de uso único (por exemplo, sacolas plásticas, caixas de alimentos e garrafas d’água) e em materiais comumente usados em indústrias marítimas, como transporte, aquicultura e pesca (por exemplo, engradados, baldes, cordas e redes). Sabe-se que o polímero mais dominante encontrado nos corredores, o polietileno (76,6%), absorve poluentes mais rapidamente do que outros polímeros e pode servir como um vetor de poluentes para a fauna marinha”, diz o estudo.

Fragmentos plásticos azuis confundidos com alimento

Como boa parte dos fragmentos plásticos ingeridos tinham cor azul ou translúcida, e muitos zooplânctons têm pigmentos assim, os pesquisadores acreditam que os animais confundam os itens com alimentos na hora de comer.

Ainda não se sabe ao certo o impacto desta ingestão para os organismos de larvas de peixes, mas tudo indica que seja igual ou pior do que para animais adultos.

“Estudos de laboratório têm algumas limitações, mas já revelaram que a ingestão de plástico pode ter efeitos adversos nos peixes, incluindo o acúmulo de substâncias tóxicas; bloqueio e perfuração intestinal; desnutrição; e diminuição da capacidade de fuga de predadores. Órgãos não plenamente desenvolvidos podem prejudicar a capacidade das larvas de peixes de se desintoxicar e eliminar poluentes químicos. Portanto, os impactos da ingestão de plástico nas larvas são provavelmente mais graves do que nos peixes adultos”, diz o artigo que, apesar do alarme, é sucedido também por possíveis soluções.

“É importante ressaltar que reduzir diretamente a exposição de larvas de peixes a plásticos é factível. Estima-se que o volume anual de plástico que chega aos oceanos poderia ser reduzido em cerca de 80% com investimentos globais no gerenciamento de resíduos e comportamento dos consumidores”, conclui.

Lixo oceânico ameaça piscina natural de Fernando de Noronha
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Por BBC

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