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‘Mega-árvores’: conheça as gigantes das florestas brasileiras

Dia 21 de setembro é celebrado o Dia da Árvore. O momento é uma oportunidade para refletir e conhecer mais sobre algumas espécies que são consideradas as verdadeiras anciãs das nossas matas. O biólogo Luciano Lima, que faz parte da equipe do Terra da Gente, traz no texto de hoje do ‘Histórias Naturais’ curiosidades envolvendo algumas gigantes da nossa natureza.

O jequitibá-rosa mede entre 30 a 50 metros e é muito utilizado na construção civil — Foto: Dirceu Martins / TG

O jequitibá-rosa mede entre 30 a 50 metros e é muito utilizado na construção civil — Foto: Dirceu Martins / TG

Quem acompanha a coluna há algum tempo, já deve ter notado que quando o assunto é natureza brasileira eu sou bastante ufanista.

Em muitos textos do ‘Histórias Naturais’, aqui um exemplo, me esforço para que o leitor perceba que, realmente, “nossos bosques têm mais vida” quando comparados a outras nações. Mas no hino do país que tem nome de árvore, tem um outro trecho que deveria inspirar orgulho desmedido pela natureza brasileira. O Brasil é “gigante pela própria natureza”.

Embora esse início de uma das estrofes do Hino Nacional permita uma interpretação metafórica, o trecho “gigante pela própria natureza” também pode ser interpretado de uma forma mais literal, especialmente hoje, no Dia da Árvore. Uma data criada para comemorar as verdadeiras gigantes da natureza brasileira. Na Amazônia e na Mata Atlântica, os nossos dois principais domínios naturais cobertos por florestas, diferentes estudos publicados nos últimos anos tem nos ajudado a conhecer melhor as maiores árvores do Brasil.

Histórias Naturais é a coluna semanal do biólogo Luciano Lima no Terra da Gente — Foto: Arte/TG

Histórias Naturais é a coluna semanal do biólogo Luciano Lima no Terra da Gente — Foto: Arte/TG

Algumas delas são velhas conhecidas, como o jequitibá-rosa (Cariniana legalis) carinhosamente apelidado de Patriarca. Com cerca de 45 metros de altura e localizado no Parque Estadual de Vassununga ele é considerado a árvore mais alta do Estado de São Paulo. Não muito distante dele recentemente foi descoberto um outro indivíduo, batizado de Matriarca, e que com mais de 40 metros de altura é considerado a segunda maior árvore paulista.

A árvore mais alta da Mata Atlântica conhecida até o momento também é um jequitibá-rosa. Com 64 metros de altura a árvore foi localizada no município de Ubatã, Bahia, há poucos anos atrás durante uma expedição coordenada pelo botânico e paisagista Ricardo Cardim em busca das maiores árvores da Mata Atlântica.

Ainda nesse domínio natural, mas na região Sul outras gigantes que se destacam são as araucárias (Araucaria angustifolia). Um estudo divulgado em 2019 e coordenado pelo botânico Marcelo Scipioni, da Universidade Federal de Santa Catarina, percorreu quase 7 mil quilômetros em busca das maiores araucárias que ainda existem e após analisar cerca de 3.500 indivíduos localizou apenas 13 com diâmetro de tronco superior a dois metros, e com altura variando entre 35 e 44 metros de altura.

Araucárias são encontradas principalmente no sul do Brasil — Foto: WHITLEY FUND FOR NATURE

Araucárias são encontradas principalmente no sul do Brasil — Foto: WHITLEY FUND FOR NATURE

Mas mesmo sendo gigantes, encontrar essas grandes árvores no meio de um oceano verde como a Amazônia, não é um desafio menor do que procurar uma agulha de crochê no palheiro. No entanto, a utilização de novas tecnologias tem facilitado um pouco o encontro de novas gigantes e foi justamente isso que permitiu o encontro recente de uma série de “mega-árvores” na Amazônia.

Analisando imagens de LiDAR, algo que funciona como um escaneamento 3D a laser da floresta, um time de pesquisadores de instituições brasileiras e estrangeiras, incluindo a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e a Universidade de Cambridge, anunciou em 2019 a descoberta de mais de 500 árvores na Amazônia Brasileira com altura superior a 50 metros. Entre elas estão 24 árvores com mais de 70 metros e pelo menos seis árvores com altura superior a 80 metros de altura! A árvore brasileira mais alta também foi encontrada durante esse estudo, um angelim-vermelho (Dinizia excelsa) com 88 metros de altura. Isso mesmo, 88 metros, tamanho aproximado de um prédio de 30 andares, ou 12 metros a mais que o dobro da altura da estátua do Cristo Redentor.

Quando o assunto é idade e árvores, geralmente “tamanho é documento”. Um outro estudo recente, publicado em 2020, que analisou a idade média de 438 espécies de árvore de todo o mundo apontou que árvores tropicais vivem em média 186 anos. A dendrocronologia é um campo de conhecimento da botânica dedicado a estudar a idade das árvores. Estimativas mais precisas sobre a idade das árvores dependem de um estudo mais detalhado baseado principalmente na contagem dos anéis de crescimento das árvores. E foi através dessa técnica que os dois jequitibás-rosa do Parque Estadual de Vassununga que comentei no início do texto tiveram sua idade estimada de forma mais precisa em 600 a 800 anos. Ou seja, três séculos antes dos portugueses invadirem o Brasil eles já estavam por aqui.

Árvore gigante na Amazônia – angelim vermelho de 83 metros — Foto: Rafael Aleixo/Arquivo Pessoal

Símbolos imponentes de resistência e resiliência, essa gigantes centenárias assistiram muitas mudanças com os olhos do tempo. Que em um futuro próximo elas presenciem um Dia da Árvore em um país que saiba cuidar melhor do que nos faz “gigante pela própria natureza”. Como também está proclamado no hino nacional, que o nosso “futuro espelha essa grandeza”. Feliz Dia da Árvore!

*Luciano Lima é biólogo e faz parte da equipe do Terra da Gente

Por G1

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