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Degradação dos bioplásticos dificulta reciclagem, diz professor

por Lusa

Esta ideia foi hoje defendida pelo professor Carlos Bernardo, do Instituto de Polímeros Compósitos da Universidade do Minho, em declarações à agência Lusa, durante a 2.ª Conferência Portuguesa sobre o Lixo Marinho, em que se discutiram estratégias e soluções para reduzir a utilização dos plásticos que poluem rios e oceanos.

“O problema dos bioplásticos é que, no fim de vida, as vantagens da sua utilização não são tão evidentes como à partida se pensava, porque na recolha seletiva não há maneira de separar o fluxo dos plásticos de base petroquímica e os de base biológica”, disse Carlos Bernardo, um dos oradores convidados da conferência que decorre até ao próximo sábado na Casa da Baía, em Setúbal.

“E se alguns destes plásticos forem degradáveis, como é óbvio, uma mistura dos dois terá problemas, porque enquanto os plásticos de origem petroquímica não se degradam facilmente, quando se está reciclar, na mistura de reciclados, uma componente da mistura – os plásticos de origem biológica -, começar-se-á a degradar. Isto não é uma verdade absoluta porque nem todos os bioplásticos são biodegradáveis, mas a maioria é. Isto significa que o facto de usarmos bioplásticos inviabiliza, em muito, uma percentagem razoável de reciclagem”, acrescentou o professor Carlos Bernardo.

Professor emérito da Universidade do Minho, Carlos Bernardo lembrou que “a grande vantagem dos bioplásticos, a sua lógica ambiental, seria se nós conseguíssemos garantir a circularidade, ou seja, se uma vez usados, pudessem, por exemplo, usá-los na compostagem para produzir produtos orgânicos que seriam usados na agricultura”.

Por outro lado, acrescentou, “em Portugal não temos ainda nenhum sistema devidamente montado para fazer a compostagem de bioplásticos, designadamente porque não atingem, nem em duração nem em temperatura, as condições de degradação para se fazerem os compostos utilizados na agricultura”.

No encontro organizado pela Associação Portuguesa do Lixo Marinho em parceria com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, o MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e Câmara Municipal de Setúbal, ninguém falou da ‘incineração com recuperação de energia’ – que segundo Carlos Bernardo poderia ter o efeito de um elefante numa loja de vidros junto dos participantes -, mas que o professor da Universidade do Minho reconhece ser uma alternativa, dando o exemplo da LIPOR – Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto.

“A LIPOR tem um universo de quase um milhão de pessoas, em que cada pessoa produz quase 500 quilos de plástico por ano e [desses 500 quilos] recicla cerca de 70 quilos. Os restantes [mais de 400 quilos] são incinerados, com recuperação de energia que dá para alimentar a cidade da Maia”, disse.

“Esta é uma boa solução, uma solução horizontal, que dá para tudo, mas que diminui a percentagem da reciclagem e que, por isso é considerada de menor interesse em valor ambiental. Mas é uma solução exequível”, sublinhou.

No primeiro dia da conferência, representantes do Pingo Doce e de outras empresas de venda a retalho, revelaram estratégias, algumas já em prática, que visam não apenas reduzir a utilização dos plásticos mas também apostar cada vez mais em plásticos reciclados.

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