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Ambientalista cria guia de turismo sustentável para o Monte Everest

Conhecido por ser o pico mais alto do mundo, o Monte Everest é um símbolo de grandes desafios para a humanidade. Além dos mais de 8 mil metros, aqueles que pretendem escalar a montanha precisam enfrentar o ar rarefeito, a instabilidade climática e o frio intenso. Há ainda outro elemento que se coloca como um problema no “teto do mundo”: o lixo. Em 2019, de acordo com a National Geographic, o governo do Nepal, país que abriga a montanha, retirou 11 toneladas de lixo da área.

Este, porém, não é um entrave que se restringe aos montanhistas que se aventuram pelo Everest ou aos turistas que passam pelo local. A situação deve ser motivo de preocupação para a sociedade como um todo. Tendo isso em mente, o empresário e ambientalista Caio Queiroz, ao ser convidado para uma viagem até o Monte Everest em 2019, decidiu que não poderia ir somente a passeio.

Por ter se envolvido com educação ambiental desde o período escolar, época em que se sensibilizou com o curta-metragem Ilha das Flores, e fazer parte de uma família que lhe proporcionou bastante contato com o meio ambiente, Caio sempre teve afinidade com a sustentabilidade. Na faculdade, cursou Desenho Industrial e desenvolveu o Trabalho de Conclusão de Curso sobre o transporte do lixo em São Paulo — e a carreira profissional também não ficou de fora.

“Na área ambiental, fui trilhando o meu caminho na parte de resíduos”, explica em entrevista a GALILEU. Caio já montou uma empresa de coleta seletiva, trabalhou com programas de gestão ambiental e se dedicou a pesquisar tecnologias que ajudassem na redução e destinação correta de resíduos. Hoje, ele é sócio da Mídia Sustentável, empresa que constrói e gere plataformas de sustentabilidade que aliam gestão ambiental, marketing socioambiental e mídia exterior em locais como Paraty (RJ), Fernando de Noronha e Trancoso (BA).

Projeto Everest Sustentável

Devido a sua trajetória, quando recebeu o convite da sócia, Mariana Britto, para ir ao Monte Everest, Caio respondeu: “eu topo se for para desenvolver um projeto, usar isso para sensibilizar as pessoas e deixar um legado ambiental”. Assim, com o objetivo de realizar uma viagem com o mínimo de impacto ambiental possível, Caio e Mariana deram início à expedição Everest Sustentável em 2019.

O ambientalista percebeu, trabalhando há mais de 23 anos na área, que chamar a atenção das pessoas para que elas se preocupem e cuidem da natureza é uma grande dificuldade. “Informação, na teoria, não falta”, diz Queiroz. “É que realmente as pessoas não estão muito ligadas e, por isso, o nosso projeto do Everest tenta cercá-las 360º para que a informação chegue de alguma forma”, complementa.

Fazem parte do projeto três grandes entregas: um documentário, uma exposição de fotos e um guia. O produto audiovisual Everest Sustentável foi lançado em 2020 e a exposição de fotos também já foi realizada, assim como a venda das fotografias, cuja renda foi 100% destinada a um orfanato no Nepal.

Agora, o mês de abril marca a entrega da última etapa do trabalho: a disponibilização e a divulgação do guia de comportamento responsável na montanha. “Lendo esse guia, você vai saber exatamente o que tem e o que não tem no Everest, como você deve se comportar desde a hora de arrumar as malas, o que você leva e o que não leva”, afirma Caio.

O material pode ser baixado gratuitamente no site do projeto e será difundido com o auxílio de agências que exploram o Everest, da embaixada do Nepal no Brasil e de personalidades como o guia de montanha Carlos Santalena, a empreendedora socioambiental Aretha Duarte, o alpinista Moeses Fiamoncini, o cinegrafista de natureza Gabriel Tarso e o montanhista Gustavo Ziller.

O que acontece com o lixo do Everest?

Caio Queiroz explica que, no ano em que visitou o Monte Everest, viu muitas notícias sobre a quantidade de lixo deixado na montanha. “O turismo vem aumentando e lá não tem estrutura para destinar o resíduo corretamente, então fica tudo jogado no chão pela trilha inteira”, observa o ambientalista.

Diante desse cenário, algumas iniciativas têm surgido para tentar solucionar o problema. Além do próprio projeto Everest Sustentável, Queiroz menciona a Sagarmatha Next. Fundada por Tommy Gustafsson, a ONG espalha lixeiras seletivas ao longo da trilha e coleta lixo em hotéis e lojas, por exemplo. Depois, esse material é triturado no vilarejo de Namche Bazaar e colocado em pacotes.

Como ainda não há logística de coleta na região, a ONG instaurou o programa “Carry me back”, que incentiva os trekkers a se voluntariarem para levar pacotes com lixo ao aeroporto de Lukla. Uma vez no aeroporto, os pacotes são acumulados e enviados para a capital, Katmandu, onde existem centrais de triagem e empresas de reciclagem.

“Esse projeto começou em 2019, ano em que a gente foi”, conta Caio. “Nós participamos e resolvemos bater o recorde de volume de lixo carregado”, lembra. Visando conscientizar as pessoas sobre a importância da ação, o ambientalista carregou 19 kg de pacotes de lixo.

Guia de comportamento responsável na montanha

Além dos 13 dias e 90 km de trekking no Monte Everest, o desenvolvimento do guia também exigiu muita pesquisa. Antes de embarcar para o Nepal, Caio buscou informações e montou um documento para saber como ele deveria se comportar conforme a estrutura local.

“Na viagem, a gente foi validando muitas das informações que eu tinha pesquisado e recebido”, diz Queiroz. Enquanto alguns dados eram reais, outros não eram compatíveis com o que foi encontrado no Everest. “Eu somei essa pesquisa com a nossa experiência in loco e montei um guia atualizado que é fiel à estrutura e à logística da região”, afirma.

O material traz informações sobre a cultura do Nepal e indica o período mais adequado para visitar a montanha, apresentando duas opções de trajeto com sugestão de cronograma: até o acampamento base do Everest (que foi a escolha de Caio) ou até o topo.

Há ainda dicas sobre os itens que devem ser levados e como eles podem ser aproveitados de forma sustentável. “Nós mostramos como fazer uma viagem de mínimo impacto ambiental através de um comportamento adequado e de tecnologias para tratamento de água e redução e destinação de lixo”, constata Caio.

Visando a economia de recursos, o empresário utilizou placas solares para gerar a própria energia e, em vez de consumir garrafas plásticas descartáveis, levou um recipiente específico para ser enchido com a água da pia, que pode ser tratada com uma pastilha ou com luz UV. “O volume de lixo que a gente gerou foi 90% abaixo da média mundial em relação ao consumo de água e de energia”, orgulha-se Queiroz. “A gente fez um balanço socioambiental que está no guia e que permite que as pessoas calculem suas próprias pegadas ambientais.”

Na concepção dele, a pesquisa é o elemento mais importante para quem pretende realizar uma viagem sustentável. “É fundamental conhecer o lugar para onde você está indo, o consumo que vai ter, como funciona a região e quais são os costumes”, observa. “Ao fazer uma viagem, você se programa financeiramente, pensa na data e tem todo esse planejamento habitual. Agora, é necessário inserir o planejamento ambiental”, conclui.

Para o ambientalista, é importante que essa prática vire um costume aplicado a todos os lugares, não apenas ao Everest. “Essa experiência foi importante para chamar uma atenção maior para a questão ambiental”, avalia ele. “Agora, queremos implementar esse programa em parques nacionais, municípios brasileiros e trazer apoio para projetos ambientais no Brasil”, finaliza.

Por Ciclovivo

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