Tamanduás-bandeiras sofrem com atropelamentos e veem um terço da sua população desaparecer em 25 anos
O tamanduá é um dos maiores mamíferos do país e também é muito antigo, considerado por pesquisadores um “fóssil vivo”. É um animal importante para o equilíbrio do meio ambiente – ele faz o controle de formigas e cupins – e a vulnerabilidade da espécie preocupa pesquisadores do país.
No caso do tamanduá-bandeira, por exemplo, um terço da população desapareceu nos últimos 25 anos.
O tamanduá-bandeira sofre com caçadores, perda de ambiente, queimadas e é uma das espécies da fauna brasileira que mais morre nas estradas do país.
“Se a situação continuar do jeito que está, em 20 anos a população aqui (em São Paulo) vai estar tão reduzida que ela vai ser considerada extinta localmente”, explica a bióloga Alexandra Bertassoni, da Estação Ecológica de Santa Bárbara, localizada no interior do estado.
Apesar de um bom olfato, o tamanduá não enxerga nem escuta bem e é lento. Também não percebe o perigo de um carro passando. À noite, a situação só piora em função de seu pelo escuro e do fato de os olhos não brilharem quando iluminados por um facho de luz.
Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, o veterinário Claudio Yudi cuida de um tamanduá-bandeira que chegou muito ferido.
Ele foi atropelado no meio de uma rodovia, teve fraturas e também havia uma bala alojada na cabeça. Após cirurgias e muitos dias de recuperação, o tamanduá apresentou melhoras.
“Esse animal daqui a pouco já vai recuperar, vai ficar forte e nós podemos então tentar fazer com que esse animal volte pra natureza”, diz Yudi.
Uma opção para evitar o risco da extinção dos tamanduás é a criação em cativeiro. Ela precisa respeitar hábitos como a forte ligação entre a mãe e o filhote.
O tamanduá é independente, não faz mal a ninguém e só precisa de uma coisa: que o deixem em paz. Quanto a nós: dirigir com cuidado, preservar a natureza e valorizar os bichos do mato.
Mas além do tamanduá-bandeira, o Globo Rural foi atrás das três principais espécies do Brasil para mostrar a característica de cada um.
O menor tamanduá do mundo
O mundo dos tamanduás é feito de extremos. Naturalistas do mundo inteiro chamam o bandeira de gigante, o gigante “comedor de formigas”. Mas existe também o menor tamanduá do mundo: o tamanduaí. Ele vive no delta do rio Parnaíba, no Piauí, uma das regiões mais bonitas do Brasil.
Ele é uma espécie rara, também chamada de tamanduá-de-seda, por causa da sua pelagem macia e da cor do fio do casulo.
O tamanduaí ocorre desde a América Central até o centro da América do Sul. No Brasil, se sabia da existência do tamanduaí na Amazônia e em algumas regiões de Mata Atlântica do litoral do Nordeste.
A descoberta dele no Piauí foi uma surpresa também para os especialistas.
O tamanduá ‘de colete’
Na mesma expedição, a equipe de pesquisadores foi atrás de uma outra espécie: o tamanduá mirim. O monitoramento é feito em diferentes épocas do ano e em diferentes áreas.
Tranquilos, esses tamanduás convivem bem com outros animais no campo. Essa espécie é uma das mais difíceis de ser capturadas. O mirim normalmente foge e se esconde.
“Ele é conhecido como tamanduá-de-colete porque ele tem um colete nas costas. É interessante porque cada um tem o seu formato. E isso individualiza cada animal, como uma impressão digital”, diz Flávia.
Comedor de formiga e cupins, o pequeno tamanduá mirim é um animal pouco estudado. Ainda há muito para se descobrir sobre ele
“Como a distribuição desse animal é bastante ampla, pega todo o Brasil, a gente ta analisando pra ver se trata somente de uma espécie”, afirma a pesquisadora.
Cauda que lembra uma bandeira
Voltando ao tamanduá-bandeira, os pelos dele são longos, de cores que variam do cinza ao marrom e uma faixa preta e branca que cruza em diagonal pelo corpo. A faixa é única em cada animal, como uma impressão digital. A cauda lembra uma bandeira, o que deu origem ao nome.
“O tamanduá-bandeira é uma das maiores espécies de mamíferos do Brasil e está aqui na América Latina há mais ou menos 33 milhões de anos”, explica a pesquisadora Flávia Miranda.
“A gente brinca que é quase um engenheiro do ecossistema. Esse papel ecológico do animal é muito importante para que a gente mantenha essa população viva”, completa Flávia.
Ela é responsável por um estado que monitora o tamanduá em várias regiões do Brasil. Um projeto que já dura mais de 10 anos.
E foi no Pantanal que o tamanduá encontrou um ambiente ideal pra viver e se reproduzir. O bandeira pode viver mais de 25 anos e seus principais predadores são a onça e a sucuri.
O tamanduá tem hábito solitário e costuma relacionar-se com outros só em época reprodutiva.
Ele passa boa parte do dia comento. Acredita-se que o animal consuma em torno de 30 mil formigas e cupins diariamente, mas a verdade é que até hoje não há uma pesquisa cientifica para atestar esse número.
“Imagina um mamífero desse tamanho que só come formigas e cupins. Tem que comer muita formiga e tem que ter um metabolismo muito adaptado pra isso”, brinca Flávia.
E não é qualquer espécie de formiga que faz parte de seu cardápio. Eles preferem as formigas de fogo e as cortadeiras, e evitam as que possuem ácido fórmico, que causam dor, coceira e inchaço. Já os cupins, são comida farta durante o período de chuvas.
Outra características dos tamanduás são as unhas. Por ele não possuir dente, as garras afiadas servem como defesa dos predadores e também ajuda na captura de alimentos.
Além disso, os tamanduás têm faro bastante apurado, tanto que a abordagem dos pesquisadores precisa ser feita contra o vento, para evitar que eles fujam.
A cada captura, os biólogos tentam coletar o máximo de informações. Os procedimentos incluem: análise física, fotos, exame de sangue, coleta de carrapatos, eles também estudam a dieta do animal. Por fim, colocam um microchip para monitoramento do tamanduá.
Esses dados vão uma base que vai nortear os planos de conservação para a espécie.
“A gente está fazendo um trabalho de muitos anos, que é mapear a genética de todos os bandeiras do Brasil e entender a evolução dessa espécie. Está em declínio populacional e se a gente não cuidar essa população pode acabar”, explica a pesquisadora.
Globo Rural
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