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Pesquisa faz levantamento de plantas utilizadas por parteiras tradicionais da Amazônia

Realizar partos é um conhecimento milenar transmitido de geração em geração pelos povos amazônicos. Com o objetivo de identificar os usos e espécies de plantas utilizadas pelas parteiras tradicionais da Amazônia, uma pesquisadora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) do Instituto Mamirauá realizou um levantamento junto a parteiras da região do Médio Solimões, no estado do Amazonas.

Para o trabalho, foram realizadas entrevistas com 31 parteiras participantes do 12º Encontro das Parteiras Tradicionais, evento organizado pela Associação de Parteiras Tradicionais do Estado do Amazonas Algodão Roxo na cidade de Tefé, onde está sediado o Instituto Mamirauá, organização social social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

O encontro contou com a participação de mulheres dos municípios de Tefé, Maraã, Uarini, Alvarães e Japurá. Além disso, a pesquisadora também realizou visitas às comunidades Bugaio e São Francisco.

“Uma das metas da pesquisa foi proporcionar mais reconhecimento e valorização do trabalho das parteiras tradicionais. A associação das parteiras foi uma grande conquista para elas e com esse estudo foi possível acompanhar e identificar os conhecimentos tradicionais das parteiras na questão dos cuidados com as parturientes com uso de plantas “, explica a autora do trabalho e estudante de biologia da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Maria Cecília Rodrigues.

As plantas medicinais, defende a pesquisadora, tem reconhecida importância na qualidade de vida de grande parte da população mundial e o seu uso também tem sido estimulado por instituições promotoras de cuidados à saúde mundiais e nacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde.

Resultados

Foram identificadas 53 espécies de plantas, que foram descritas como denominadas pelas parteiras. As mais utilizadas são: alfavaca, cibalena, chá preto, capim santo, erva cidreira, algodão roxo, mutuquinha, pobre velho, cuminho, boldo, quebra pedra, mulata catinga, hortelãzinho, crajirú, chicória, coentro, cipó tuíra, cravo de defunto ou de anjo, ajuricam, vassourinha, sucubinha, sara tudo, algodão branco, urupê, pimenta do reino, alfazema, mamona, aeda, arruda, mucuracaá, pluma, gergelim, amor crescido, azeitona, açaí, mangarataia, copaíba, jatobá, pracanaúba, urtiga, carrapateira, mamão, mastruz, taperebá, abil, caju, acapurana, abacate, andiroba, sena, jambu, manjericão e malvarisco.

Os métodos mais comuns de uso das plantas são chás feitos por meio de fervura e infusão de folhas, mas também se utiliza cascas e sementes o sumo ou a planta crua.

As utilizações visam tratar e amenizar problemas e sintomas variados e comuns na gestação, parto e pós-parto, como inflamação no útero, hemorragia, infecções, hepatite, dores, contração e dilatação.

Além de remédios para diversas enfermidades, as plantas e seus compostos têm sido utilizadas há séculos pelas populações tradicionais como de grande importância em rituais e práticas espirituais e religiosos.

“O conhecimento da parteira tradicional refere-se a posturas, posições, óleos, toques, massagens, ervas para chás, banhos, simpatias, rezas e cantos”, define o trabalho intitulado “Uso das Plantas Medicinais pelas Parteiras Tradicionais do Médio Solimões”.

Os partos tradicionais também se tornaram são referências em técnicas cada vez mais reconhecidas pela ciência – com utilização de métodos não invasivos e de parto humanizado.

Algodão roxo

A associação das parteiras foi batizada inspirada no algodão roxo, planta cujo uso foi identificado em 77% das parteiras entrevistas no trabalho.

As folhas do algodão roxo são consideradas diuréticas e digestivas e as parteiras recomendam o uso para hemorragias e inflamações em geral. Também serve para ajudar na produção de leite materno. Geralmente, é ingerido o seu sumo.

Conhecimentos ribeirinho e indígena aliados a cuidados médicos

Uma das questões investigadas pela pesquisa também foram as diferenças nos usos e espécies por parte de parteiras indígenas e parteiras ribeirinhas.

“Foram abordados os dois tipos de saberes, das parteiras indígenas e das parteiras ribeirinhas, para investigar se havia grandes discrepâncias entre as espécies e usos pelos dois. A pesquisa mostrou, entretanto, que o número de similaridades é grande”, afirma a orientadora do projeto, Marília Sousa. A coorientação do trabalho foi da pesquisadora líder do Grupo de Pesquisa em Territorialidades e Governança Socioambiental na Amazônia, Ana Claudeíse Nascimento.

Por fim, concluiu-se que por estarem presentes em diversas comunidades do interior, o trabalho das parteiras tem papel fundamental na saúde básica com atendimento às parturientes e aos bebês em localidades distantes dos grandes centros urbanos.

A pesquisa também atestou que as parteiras recomendam que as gestantes façam consultas rotineiras ao médico, ou seja, o pré-natal, como forma de garantir a saúde dela e do bebê. “Com esta recomendação, nota-se o diálogo entre conhecimento tradicional e conhecimento biomédico e/ou medicina convencional. ”

O trabalho de iniciação científica foi apresentado no 16º Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia (Simcon), em Tefé, e no ‘Seminário Internacional de Ecologia Política: Justiça Socioambiental e Alimentar na Tríplice Fronteira Amazônica’, em Tabatinga.

Texto: Júlia de Freitas, Instituto Mamirauá

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/08/2019

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