O papel dos oceanos na taxa de aquecimento global
By cienciaeclima
A variabilidade natural interna do sistema climático influencia na taxa de aquecimento global. E oscilações observadas nos oceanos possuem um papel relevante para a aceleração ou moderação da velocidade do aquecimento, apontou estudo de cientistas de universidades da China e dos Estados Unidos.
Pesquisas anteriores haviam explorado como fenômenos cíclicos dos oceanos redistribuem a energia absorvida pelo planeta. Entre eles, a Oscilação Decadal do Pacífico – ODP – e a Oscilação Multidecadal do Atlântico – OMA.
Apresentando fases positivas e negativas, essas oscilações do Pacífico e do Atlântico podem alterar a circulação de energia. De acordo com o estudo, dependendo da fase, mais energia pode ser transportada para as camadas profundas do oceano, em vez de ser direcionada às camadas superficiais.
Essa variação interferência no monitoramento da temperatura média global, que se baseia em levantamentos da temperatura do ar nos continentes e nas águas superficiais dos oceanos. Quando as oscilações dos oceanos levam o calor para camadas mais profundas, as águas superficiais aquecem mais lentamente.
Com isso, a taxa de aumento da temperatura média global – principal indicador do aquecimento global – desacelera.
Dessa forma, as tendências de longo prazo, ao longo de um século, da temperatura média global são condicionados por fatores externos, como tem sido observado desde a Revolução Industrial. A temperatura global aumentou devido à intensificação do efeito estufa, causado pelo aumento das concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa.
Já as variações da tendência em prazos de uma década ou menos refletem a influência da variabilidade interna do sistema climático. Mas tanto fatores externos quanto internos interagem e influenciam continuamente a tendência da temperatura global. Isolar um fator do outro, a fim de estimar seus efeitos sobre a temperatura, consiste em uma tarefa extremamente desafiadora.
Os cientistas elaboraram um novo método para isolar os dois fatores. Da tendência de aumento da temperatura global registrada entre 1880 e 2017, eles separaram entre o que seria devido ao aumento das concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa e o que seria efeito das oscilações do Atlântico e do Pacífico.
O estudo apontou que 70% do aumento da temperatura estaria vinculado ao crescimento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. A Oscilação Decadal do Pacífico – ODP – e a Oscilação Multidecadal do Atlântico – OMA – responderia pelos 30% restantes, com uma contribuição maior da OMA do que da ODP.
Em geral, em escalas de tempo maiores, de várias décadas, a OMA apresentaria uma interferência maior sobre a tendência da temperatura média global. Em escalas de tempo de uma década ou menos, a influência entre a OMA e a ODP seria semelhante.
Quando ambas oscilações se encontram na mesma fase, a contribuição delas para a tendência da temperatura pode superar momentaneamente os efeitos do aumento dos gases de efeito estufa. Assim, a taxa de aquecimento global se acelera ou diminui.
Todavia, à medida que se elevam cada vez mais a concentração atmosférica de gases de efeito estufa, as oscilações do Atlântico e do Pacífico perderão influência sobre a temperatura global. As flutuações na taxa de aquecimento poderão se tornar pequenas.
Mais informações: Wu, T., Hu, A., Gao, F., Zhang, J., & Meehl, G. A. (2019). New insights into natural variability and anthropogenic forcing of global/regional climate evolution. npj Climate and Atmospheric Science, 2(1), 18.
Imagem: adaptado da figura 4 do estudo – gráfico da
tendência de aumento da temperatura média global (linha preta), com a
contribuição do aumento dos gases de efeito estufa e das oscilações do
Atlântico e do Pacífico
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