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Há 26 anos Projeto Papagaio-Verdadeiro atua pela conservação do psitacídeo mais traficado do Brasil

Vítima principalmente do tráfico de animais silvestres, o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) também sofre com o desmatamento e a ausência de cavidades naturais para reproduzir. Apesar de ser considerado Quase Ameaçado nas listas brasileira e mundial de espécies ameaçadas de extinção, o status de conservação da ave preocupa.

Por isso, há 26 anos a zootecnista e doutora em Ecologia e Conservação da Natureza Glaucia Seixas, junto a biólogos, pesquisadores e voluntários, se dedica ao Projeto Papagaio-Verdadeiro. “Buscamos dar evidencia aos nossos ‘amigos verdes’ que tanto sofrem com o tráfico de filhotes e a perda de habitat natural”, diz.

Papagaios-verdadeiros pousados em dormitório  — Foto: Dione Sales/Projeto Papagaio-Verdadeiro

Papagaios-verdadeiros pousados em dormitório — Foto: Dione Sales/Projeto Papagaio-Verdadeiro

As ações do Projeto são divididas em quatro frentes:

  1. Pesquisa científica para gerar conhecimento sobre a biologia e ecologia da espécie, áreas de reprodução, alimentação e dormitórios;
  2. Educação para a conservação com ações que estimulam a reflexão e conscientização sobre a importância de proteger a espécie e combater o tráfico;
  3. Mapeamento do tráfico com ações de caracterização e fomento de políticas públicas de conservação;
  4. Aplicação de ferramentas de manejo visando a conservação de ninhos naturais e instalação de ninhos artificiais para ajudar na reprodução da espécie.
Acredita-se que a espécie tenha sofrido declínios severos no nordeste do Brasil, sobretudo no bioma Caatinga — Foto: Kennedy Borges/INaturalist

Acredita-se que a espécie tenha sofrido declínios severos no nordeste do Brasil, sobretudo no bioma Caatinga — Foto: Kennedy Borges/INaturalist

“Desde 1997 o Projeto Papagaio-verdadeiro monitora as áreas de reprodução, alimentação e dormitórios da espécie no Pantanal de Mato Grosso do Sul. A partir de 2015 passamos a conhecer, também, os papagaios-verdadeiros do Cerrado e Mata Atlântica do Mato Grosso do Sul. Nessa ultima região nossas ações são focadas na caracterização e identificação do impacto do tráfico de filhotes”, explica Seixas.

O Projeto também gera informações que podem agregar valor ao turismo de observação de aves, como o melhor período do dia e ano para visualização desses animais e a identificação das áreas de maior densidade, incentivando assim a prática de atividades econômicas de menor impacto sobre o meio ambiente.

 Há 26 anos a zootecnista Glaucia Seixas fundou o Projeto Papagaio-Verdadeiro — Foto: Dione Sales/Projeto Papagaio-Verdadeiro

Há 26 anos a zootecnista Glaucia Seixas fundou o Projeto Papagaio-Verdadeiro — Foto: Dione Sales/Projeto Papagaio-Verdadeiro

“Em 2019 começamos a confeccionar, instalar e monitorar ninhos artificiais para os papagaios-verdadeiros no Cerrado e Mata Atlântica do Mato Grosso do Sul. Cerca de 400 ninhos foram instalados nos últimos quatro anos, em locais seguros como unidades de conservação e propriedades rurais parceiras. Todos foram patrocinados por pessoas físicas e jurídicas que aderiram à campanha ‘Adote Um Ninho’, realizada em conjunto com o Programa Papagaios do Brasil”, destaca.

O projeto Papagaio-verdadeiro conta ainda com a parceria do Instituto Claravis/Parque das Aves e a Fundação Neotropica do Brasil, além do apoio de diversas instituições e empresas e dos Amigos dos Louros.

O papagaio-verdadeiro é o psitacídeo (periquitos, papagaios, maitacas e araras) mais traficado no país — Foto: Stephanie Fonseca/G1

O papagaio-verdadeiro é o psitacídeo (periquitos, papagaios, maitacas e araras) mais traficado no país — Foto: Stephanie Fonseca/G1

Como proteger os papagaios?

Apesar de tantos anos de trabalho dedicados à proteção dos papagaios, muito ainda precisa ser feito para garantir a sobrevivência da espécie. “Intensificar o combate ao tráfico de filhotes de papagaios-verdadeiros, melhorar a qualidade ambiental do habitat e disseminar, junto às crianças e adolescentes, a importância de conservar os papagaios livres na natureza são só algumas das ações que devemos continuar realizando”, comenta Gláucia, que lista práticas simples, mas importantes para a proteção da espécie.

  • Não compre papagaios que nasceram na natureza, pois estará financiando o tráfico e contribuindo para extinção da espécie;
  • Denuncie para as autoridades ambientais de seu Estado quem captura, transporta ou vende papagaios ilegais (retirados da natureza), pois só assim os agentes de fiscalização conseguirão agir com eficácia;
  • Proteja ou plante árvores nativas da sua região, seja no seu quintal ou nas áreas verdes próximas, para que os papagaios e outras espécies da fauna encontrem alimento e locais seguros para abrigos, dormitórios e cavidades para os ninhos;
  • Participe da Campanha “Adote um Ninho e seja Amigo/a do Louro”, para que possamos aumentar o número de ninhos artificiais disponíveis para ajudá-los;
  • Compartilhe essas informações para familiares e amigos: só assim conseguiremos mudar o cenário atual e continuar contemplando os papagaios–verdadeiros livres pelos céus do Brasil
Papagaios-verdadeiros apreendidos de traficantes — Foto: Glaucia Seixas/Projeto Papagaio-Verdadeiro

Papagaios-verdadeiros apreendidos de traficantes — Foto: Glaucia Seixas/Projeto Papagaio-Verdadeiro

Papagaio-verdadeiro

Admirar um papagaio-verdadeiro não é nenhum desafio, afinal, as cores da ave chamam atenção: cabeça azul e amarela, encontro das asas vermelho ou amarelo, base da cauda vermelha, bico preto e o restante do corpo verde. “Uma característica interessante é a variação do colorido da cabeça (azul e amarelo), pois a diversidade é tão grande que não se encontram dois indivíduos iguais”, destaca Glaucia.

O papagaio-verdadeiro ocorre no Pantanal, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica do interior e Chaco. — Foto: Arquivo TG

O papagaio-verdadeiro ocorre no Pantanal, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica do interior e Chaco. — Foto: Arquivo TG

Na dieta da ave estão brotos de folhas, flores, e frutos, incluindo sementes e polpa.

A espécie é monogâmica, ou seja, macho e fêmea convivem para sempre com o mesmo parceiro. “Vivem em bandos e a partir do terceiro ou quarto ano de vida já estão prontos para reproduzir. O período reprodutivo acontece entre a primavera e o início do verão”.

A melhor maneira de demonstrar o seu amor pelos papagaios-verdadeiros é deixálos livres na natureza! Não compre papagaios retirados da natureza e espalhe essa ideia — Gláucia Seixas, zootecnista e doutora em Ecologia e Conservação da Natureza

Exigentes na escolha dos ninhos, as aves buscam por árvores maduras onde existam cavidades apropriadas para a postura dos ovos, nascimento e crescimento dos filhotes.

“Os filhotes nascem sem plumas e com os olhos fechados e ficam dentro do ninho por aproximadamente dois meses. É bem nesse período que os traficantes capturam as aves, pois são pequenas e indefesas. Estima-se que de cada 10 animais capturados, apenas um sobrevive devido aos maus tratos que sofrem, sendo transportados em locais sem ar, com pouco espaço e sem alimento”, reforça a especialista.

Papagaio-verdadeiro também sofre com o desmatamento e a ausência de cavidades naturais para reproduzir — Foto: Arquivo TG

Papagaio-verdadeiro também sofre com o desmatamento e a ausência de cavidades naturais para reproduzir — Foto: Arquivo TG

Encontrado em diversas regiões do Brasil, o papagaio-verdadeiro ocorre no Pantanal, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica do interior e Chaco. Fora do País a ave pode ser encontrada no leste da Bolívia, norte da Argentina e sul do Paraguai.

“Acredita-se que a espécie tenha sofrido declínios severos no nordeste do Brasil, sobretudo no bioma Caatinga, onde passou a ser considerado raro na natureza Dados coletados durante 22 anos de estudos do Projeto Papagaio-verdadeiro indicam que o número de filhotes recrutados para as populações naturais está diminuindo ao longo dos anos no Pantanal do Mato Grosso do Sul. Isso é bastante preocupante, principalmente porque os papagaios são animais longevos (podem viver até 80 anos), e se essa diminuição persistir por muitos anos, quando os efeitos forem detectáveis pode ser tarde demais para que as instituições de conservação atuem e revertam as tendências populacionais”, alerta Glaucia, que destaca também os efeitos da diminuição da vegetação nativa.

“Aproximadamente 25% da vegetação do Cerrado brasileiro e cerca de 8% e 13% no Pantanal e Caatinga, respectivamente, foram devastados. Portanto, estima-se que a população esteja passando por um declínio contínuo”, finaliza.

 Monitoramento ninho artificial é uma das ações realizadas pelas equipes — Foto: Caio Prates/Projeto Papagaio-Verdadeiro

Monitoramento ninho artificial é uma das ações realizadas pelas equipes — Foto: Caio Prates/Projeto Papagaio-Verdadeiro

Por G1

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