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Expostas ao Calor Extremo, as Garrafas de Plástico Podem ser Nocivas

No fim de semana de 20 de julho, ao longo da costa leste e no centro-oeste dos Estados Unidos, milhões de pessoas estiveram sob vigilância devido a uma vaga de calor massiva. Este evento aconteceu depois do mês de junho mais quente de que há registo, segundo os dados da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional.

Mas antes de irmos buscar uma garrafa de água para nos mantermos hidratados, devemos parar para pensar se essa garrafa também não esteve debaixo de um sol escaldante.

“Quanto mais quente fica, mais os compostos do plástico passam para a comida e bebida”, diz Rolf Halden, diretor do Centro de Engenharia de Saúde Ambiental do Instituto de Biodesign da Universidade Estadual do Arizona.

A maioria dos recipientes de plástico liberta uma pequena quantidade de químicos nas bebidas ou alimentos que contêm. Ao longo do tempo, com o aumento das temperaturas, as ligações químicas do plástico começam a degradar-se e os químicos ficam com uma propensão maior para lixiviar. De acordo com a agência federal FDA, estas quantidades são demasiado pequenas para provocar problemas de saúde, mas os cientistas que analisam os efeitos da exposição ao plástico a longo prazo dizem que todas estas pequenas doses podem um dia escalar para algo maior.

Uma garrafa descartável num dia quente de verão
Grande parte das garrafas de água que encontramos nas prateleiras dos supermercados é feita de um plástico chamado polietileno tereftalato, ou PET. É reconhecível pelo número de reciclagem 1, e aceite pela maioria dos programas de reciclagem.

Em 2008, um estudo realizado por cientistas da Universidade Estadual do Arizona analisou a forma como o calor acelera a libertação de antimónio em garrafas feitas com PET. De acordo com os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, o antimónio é usado no fabrico do plástico e, em concentrações muito elevadas, pode ser tóxico. Com um clima ameno de 21 graus, os investigadores mediram os níveis de segurança deste produto químico em água engarrafada. Mas conforme o dia ia aquecendo, o tempo necessário para a água ficar contaminada ia decrescendo.

No verão, o interior de um carro ao sol pode atingir os 65 graus. Nas experiências feitas em laboratório, bastaram 38 dias para as garrafas de água aquecidas a essa temperatura ficarem com níveis de antimónio que ultrapassam as recomendações de segurança.

“Normalmente, sim, o calor ajuda a quebrar as ligações químicas em plásticos como o das garrafas, e esses produtos químicos podem migrar para os líquidos que as garrafas contêm”, diz por email Julia Taylor, cientista que fez investigações sobre o plástico na Universidade do Missouri.

Em 2014, os cientistas encontraram concentrações elevadas de antimónio num composto tóxico chamado BPA, em água vendida em garrafas de água chinesas. Em 2016, em água engarrafada vendida no México, também descobriram altos níveis de antimónio. Ambos os estudos testaram a água sob condições que excederam os 65 graus, representando os cenários mais graves.

De acordo com o grupo da indústria, a International Bottled Water Association, a água engarrafada deve ser mantida nas mesmas condições que os consumidores mantêm os outros alimentos.

“A água engarrafada desempenha um papel importante em situações de emergência. Se estivermos em risco de desidratação, o recipiente onde a água vem não interessa. Mas para a maioria dos consumidores”, diz Halden, “não existe benefício nenhum no uso de todas estas garrafas.”

E recipientes reutilizáveis?
As garrafas de água que podem ser usadas repetidamente são na maioria das vezes feitas de polietileno de alta densidade (HDPE) ou policarbonato. O HDPE é amplamente aceite nos programas de reciclagem (código de reciclagem 2), mas o policarbonato é mais difícil de reciclar (código de reciclagem 7).

Para fazer com que estas garrafas sejam brilhantes e resistentes, os fabricantes costumam usar bisfenol A, ou BPA, um composto que está sob fogo devido à sua toxicidade. O BPA é um disruptor endócrino, o que significa que pode perturbar a normalidade das funções hormonais e dar origem a uma série de problemas de saúde perigosos. Para além disso, os estudos ligaram este composto ao cancro da mama.

Nos EUA, a agência FDA baniu o uso de BPA em biberões e em copos com palhinhas para bebés, mas não encontrou evidências que exijam restrições adicionais.

Independentemente disso, muitos fabricantes responderam às preocupações dos consumidores retirando o BPA dos seus produtos.

“Não ter BPA não significa necessariamente que é seguro”, diz Taylor. E destaca que o bisfenol S é frequentemente usado como uma alternativa, apesar de “estruturalmente ser semelhante ao BPA, acabando por ter propriedades muito idênticas”.

Até agora, foram feitos poucos estudos sobre o que acontece à água exposta a altas temperaturas dentro de um recipiente reutilizável. Mas as investigações onde despejaram água a ferver sobre policarbonato revelaram que o BPA lixiviava mais com o aumento da temperatura.      

“A conclusão é a de que, sempre que possível, o vidro é melhor do que o plástico”, diz Taylor. “Caso isso não seja possível, a mensagem deve ser a de mantermos as nossas garrafas de água dentro de uma mochila, ou cobertas, quando não estão a ser utlizadas (em vez de expostas à luz solar durante longos períodos de tempo) e não deixar garrafas de plástico dentro de um carro ao calor, sobretudo com o aumento das temperaturas.”

Cerne da questão
Em última análise, a quantidade de vestígios químicos que uma pessoa pode consumir a partir de recipientes de plástico expostos ao calor não é considerada, para já, prejudicial à nossa saúde. Mas Halden diz que nos devemos preocupar com a quantidade de plástico que nos rodeia diariamente.

“Se bebermos água de uma garrafa com PET, isso prejudica a nossa saúde? Provavelmente, não”, diz Halden. “Mas se bebermos de 20 garrafas todos os dias, então a questão da segurança pode mudar por completo.”

O efeito cumulativo de estarmos rodeados de plástico e os microplásticos na água que bebemos tem um potencial de impacto muito maior sobre a nossa saúde.

Para se manter hidratado, Halden opta por uma garrafa de metal, em vez de uma garrafa de plástico reutilizável.

“Se não queremos isto no nosso corpo, não devemos aumentar o fluxo desse material na nossa sociedade”, diz.
 

Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site nationalgeographic.com

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