Estudo aponta aumento na mortalidade de árvores da Amazônia após secas severas
Um estudo feito por uma rede internacional de pesquisadores analisa os efeitos das mudanças climáticas em espécies de árvores da Amazônia. O estudo, apresentado em Rio Branco, capital do Acre, constatou mudanças na composição de espécies e o aumento da mortalidade de árvores após secas severas nos anos de 1998, 2005, 2010 e 2015.
A pesquisa é feita desde 2017 e, segundo os pesquisadores, o Acre é uma das regiões mais afetadas.
“Isso é um processo que está acontecendo em nível de planeta. Estamos cientes de que a temperatura no globo tem aumentado e com ele as secas severas na Amazônia”, afirma o pesquisador Marcos Silveira.
Os pesquisadores monitoram áreas espalhadas por toda a Amazônia usando a mesma unidade amostral, as parcelas permanentes padronizadas com tamanho de 1 hectare.
No Acre, nove áreas são monitoradas, quatro delas instaladas na Reserva Extrativista Chico Mendes (Resex), uma na Fazenda Experimental Catuaba, uma na Reserva Florestal Humaitá, na Universidade Federal do Acre (Ufac), e três no Alto Juruá.
Todas as árvores e cipós com diâmetro igual ou maior a 10 cm, encontradas nessa área, são marcadas com uma plaqueta numerada e identificadas.
Secas severas em 2005 e 2010
Os pesquisadores afirmam que a partir dos acompanhamentos realizados a cada três anos, verificou-se que as parcelas da região leste do Acre estão entre aquelas que registraram aumento na taxa de mortalidade após as secas severas de 2005 e 2010, na maior parte da Amazônia.
São analisadas também mudanças na composição de espécies, principalmente, de árvores grandes e do mecanismo que causa a mortalidade delas. O primeiro passo dos pesquisadores foi na floresta, coletando as amostras das espécies resistentes e vulneráveis.
A equipe da Rede Amazônica acompanhou dois pesquisadores na coleta em campo. As espécies coletadas para amostra podem ser encontradas no solo e na copa das árvores.
O Cumaru cetim foi uma das espécies coletadas e analisadas. Ele é apontado pelos pesquisadores como uma das árvores mais resistentes e exuberantes da região amazônica.
“Com relação ao Cumaru cetim, alguns fatores podem contribuir para que ela seja mais resistente, uma delas é a densidade da madeira, ou seja, quanto mais dura a madeira, mais vai proteger os vasos do xilema [responsável por levar água e sais minerais para a planta]”, acrescenta o pesquisador Martin Costa.
Já o caucho, uma plantinha com pouco mais de dois anos, foi quem apresentou mais vulnerabilidade.
“Uma das causas da falha hidráulica que essa espécie apresenta é em função da densidade da madeira. Ela protege muito pouco os vasos condutores então eles entram em colapso em seca severa e as plantas morrem”, explica o pesquisador Marcos Silveira.
Laboratório montado em fazenda
Um laboratório de análise foi montado dentro da Fazenda Experimental Catuaba, na BR-364 . Com a descoberta da morte dessas árvores na região, a pesquisadora brasileira Julia Tavares, que atua na Inglaterra, estuda os motivos dessa mortalidade a partir do material coletado e analisado no laboratório.
“Dependendo, uma planta vulnerável não vai aguentar uma seca severa, e essas secas estão previstas no futuro, assim como o aumento da temperatura que já está acontecendo como a seca de 2005, 2010 e 2015”, pontuou.
A pesquisadora explica que a mortalidade das plantas vem sendo causada por um embolismo, uma obstrução do fornecimento de água causada por bolhas de ar no canal de extração da água.
“Quanto mais estressadas, pode ser que tenha ar dentro dessas plantas e a água não consegue fluir, causando uma falha hidráulica. Então, nesse momento a gente está caracterizando a resistência a essa falha hidráulica”, afirma.
Castanheira é vulnerável às secas
Um aparelho usado pelos pesquisadores permite avaliar o potencial de força que a planta exerce para movimentar a água do solo. Entre as árvores pesquisadas, as de exploração madeireira foram as que apresentaram maior vulnerabilidade, como a Castanheira e a Itaúba.
“Então, se olhar só essa formação de bolhas, a Castanheira seria mais vulnerável do que a Itaúba, só que de repente a gente não analisou todos os dados pra ver se a Castanheira tem um controle dessa abertura maior”, acrescenta Júlia.
A inglesa Emma Docherty pesquisa os traços térmicos da planta. Segundo ela, com o aquecimento global, plantas que mostravam resistência ao calor em regiões mais quente do planeta, já não apresentam mais a mesma resistência.
“Nas árvores mais resistentes, as folhas ficaram normais, mas nas árvores mais sensíveis às temperaturas, as folhas secaram e morreram”, diz
João Antônio é engenheiro florestal e também faz parte da equipe de pesquisa. Ele diz que após o término de toda a pesquisa será possível orientar quem trabalha em área de manejo, sobre o comportamento dessas espécies exploradas na região.
“Para o manejo florestal é importante o entendimento do comportamento dessas espécies madeireiras, porque para um futuro próximo elas podem ser afetadas diretamente e comprometendo a disponibilidade dessas espécies madeireira para o consumo e para o comércio”, conclui
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