Derretimento do Ártico pode ser gatilho para eventos climáticos mais extremos
Em um novo relatório, publicado nesta quinta (29), o Climate Crisis Advisory (CCAG) indica que o rápido aquecimento e derretimento da camada de gelo do Ártico é, provavelmente, um dos principais agentes causadores das mudanças climáticas em escala global. Segundo o CCAG, apenas nos últimos 30 anos, a região aqueceu até três vezes mais rapidamente do que a temperatura média do planeta, liberando grandes quantidades de água doce e fria no Atlântico Norte — e os efeitos diretos são os eventos climáticos extremos observados nos últimos anos.
Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, da Alemanha, e membro do CCAG, explica que a ocorrência sistemática de eventos cada vez mais extremos em todo o mundo não pode ser explicada apenas pelo 1,2 °C de aquecimento global registrado até o momento — há muito mais em jogo. Nos últimos 30 anos, o Ártico aqueceu a uma taxa de 0,81 °C por década, bem mais veloz do que a média global, que aumentou cerca 0,23 °C por década.
Um efeito direto disto é a rápida e irreversível perda do gelo marinho. Além disso, estamos perdendo a camada de gelo sobre a Groenlândia — a qual, segundo o relatório, há o suficiente para elevar o nível global dos oceanos em até 7,5 metros. O Ártico é uma peça fundamental para o controle da temperatura da Terra e, ao liberar tanta água doce e fria no Atlântico Norte, provoca uma diminuição na circulação do oceano.
Com isto, os impactos se estendem até a Antártida, afetando profundamente eventos climáticos complexos, como a Monção na América do Sul. Isso também explicaria o aumento das secas e incêndios na Floresta Amazônica, liberando ainda mais CO2 para a atmosfera terrestre. Dessa maneira, o efeito estufa se torna mais intenso e aumenta a velocidade do derretimento do gelo do Ártico. Estima-se que dezenas a centenas de bilhões de toneladas de carbono, presas no permafrost, possam ser liberadas deste processo.
A pesquisadora Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB), diz que impactos da influência humana sobre o clima em uma região se propagam a outras em função da circulação atmosférica e oceânica. “Não atuar para reverter as causas da mudança climática e reduzir seus impactos é uma escolha que implica em prejuízos substanciais para nossa economia e para a segurança da população”, acrescenta Bustamante, única brasileira membro do CCAG.
Fundado em junho deste ano, o CCAG é um grupo independente de cientistas, financiado pelo Center for Climate Repair, que atua como consultor de mudanças climáticas e de biodiversidade. Sir David King, presidente do grupo, ressalta que “não devemos apenas reduzir imediatamente as emissões, particularmente de combustíveis fósseis, mas também procurar maneiras de remover gases de efeito estufa da atmosfera grandes escalas”.
Desde seu início, este é o segundo relatório publicado pela CCGA. O primeiro, responsável por convocar uma ação política e financeira internacional rápida como resposta às mudanças climáticas, foi publicado em 23 de junho de 2021, no site da Agência Bori.
Por Canaltech
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