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Cientistas explicam como as queimadas afetam a população das cidades brasileiras

Carina Brito

Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que cinco estados brasileiros tiveram um maior aumento no número de queimadas desde o início do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Só no Mato Grosso do Sul o aumento foi de 260% em relação a 2018. Mas qual é a consequência das queimadas das florestas para as cidades?

Segundo a professora Marcia Yamasoe, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, as queimadas podem, sim, causar efeito nas cidades. Um exemplo foi o que aconteceu em São Paulo na última segunda-feira (19), quando o céu ficou completamente escuro às três horas da tarde.

Por meio de imagens da NASA, é possível observar que no dia 18 de agosto existiam focos de queimada na região da Amazônia, Rondônia, Acre e Bolívia. “O vento predominante nesta região em geral é o de leste, que encontra a Cordilheira dos Andes e é obrigado a desviar por causa da barreira”, diz a professora Yamasoe.

Ela explica que o caminho natural dessa fumaça era ir para a região Sul, mas uma frente fria entrou no caminho e fez essa fumaça realizar um “desvio” para São Paulo. “Caso a frente fria não tivesse chegado em São Paulo, a fumaça teria ido para o Rio Grande do Sul e para a Argentina”.

Segundo a meteorologista Josélia Pegorim, os paulistas sentiram o ar que a população de estados como Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,  Pará e Maranhão estão convivendo por semanas consecutivas durante o inverno, especialmente no fim da estação, quando as queimadas se intensificam e se alastram pelo país. “Não chove, o ar fica muito seco e quase sem nuvens, mas não se vê o azul do céu, só o amarelado da fumaça e o sol escondido por ela”, diz Pegorim em texto publicado no Climatempo.

No entanto, como a fumaça estava bem alta, a professora Yamasoe explica que o fato não causou tantas consequências para São Paulo além da poluição que já existe na cidade.

Mas isso não significa que não devemos nos preocupar com a questão. “Caso sejam eventos mais frequentes, os efeitos vão desde o prejuízo da visibilidade dos motoristas nas estradas até o fechamento de aeroportos”, diz Yamasoe. No sábado (17), o aeroporto internacional de Viru Viru, na Bolívia, foi fechado devido à baixa visibilidade. Além disso, os especialistas destacam o aumento do risco de doenças respiratórias para as populações das regiões que vivem próximas às queimadas. 

Origem do fogo
Os incêndios ambientais são causados especialmente com o objetivo de queimar resíduo agrícola e de pastagem para plantar uma nova produção. “Uma queimada acidental acontece? Sim, é possível. Estão anunciando uma queimada na Chapada dos Guimarães no Mato Grosso que pode ter sido causada por uma bituca de cigarro ou porque alguém queimou lixo e o fogo saiu de controle. Mas é possível falar que isso é acidental? Natural não é”. E a situação pode piorar, considerando que o pico das queimadas é em setembro, quando o clima está mais seco. 

Incêndio na região do Cerrado (Foto: Wikimedia Commons)

Mas a atividade humana continua sendo a grande causa das queimadas, como no caso da Amazônia, uma floresta tropical — e consequentemente úmida. “Então a Amazônia só deveria queimar em anos extremamente secos. Para queimar em grandes proporções, em geral, tem que derrubar [a madeira] no começo da estação seca — fim de maio, junho e julho — para depois colocar fogo em setembro e começo de outubro”, explica a professora Yamasoe.

Para Edson José Vidal, professor de Engenharia Florestal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, o maior problema é que, com as tendências atuais, a situação do meio ambiente vai se agravar — e muito. “E agora o governo não mostra como vai ser a forma de resolver o problema que estamos enfrentando. Eles estão apostando no agronegócio e na agricultura, mas não teremos mais florestas e um ambiente para viver”, afirma.

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