20% das águas da Bacia Amazônica já sofrem com altos níveis de impactos
A Ambiental Media, com apoio do Instituto Serrapilheira, lançou o Índice de Impacto nas Águas da Amazônia (IIAA), o primeiro diagnóstico baseado em ciência sobre o estado geral de saúde dos ecossistemas aquáticos amazônicos no Brasil.
O índice, que faz parte do projeto Aquazônia, foi construído a partir da análise de nove fatores de pressão sobre a bacia: agricultura e pecuária, área urbanizada, garimpo ilegal, mineração industrial, hidrelétricas, cruzamento de estrada, hidrovia, degradação florestal e diferença de precipitação.
Das 11.216 microbacias da Amazônia no Brasil, 2.299 (20%) têm impacto considerado alto, muito alto ou extremo. “Conseguimos perceber que as águas da Amazônia estão bem menos protegidas do que imaginávamos. O impacto é bem disperso e atinge até mesmo áreas bastante isoladas. As atividades não acontecem sozinhas, mas em conjunto com outros fatores. Um impacto abre caminho para outros, como no caso das hidrelétricas. Elas demandam grandes infraestruturas e acabam proporcionando acesso para mais desmatamento, estradas, cruzamentos”, alerta Cecília Gontijo Leal, bióloga e pesquisadora da USP, principal autora do IIAA ao lado da editora de infografia da Ambiental, Laura Kurtzberg.
As cinco regiões com valor de índice mais alto são todas marcadas pela presença de barragens de grandes hidrelétricas, como Canaã e Belo Monte, localizadas em Rondônia e no Pará, respectivamente. Considerando todas as microbacias categorizadas como tendo impacto alto, muito alto ou extremo, 50% estão afetadas por hidrelétricas e 21% sofrem efeitos combinados de barragens e mineração industrial. “A Bacia Amazônica é o conjunto de todos os rios, lagos e igarapés e não pode ser analisada separadamente. O efeito acumulativo dos impactos sobre ela é maior do que a soma dos fatores individualmente e é isso que o índice mostra: a sobreposição dos fatores de pressão em diferentes áreas da região”, complementa Cecília.
As terras indígenas e as unidades de conservação também são impactadas pelos fatores de pressão. Segundo o IIAA, das 385 terras indígenas existentes na Amazônia, 323 têm índice de impacto de médio para baixo, o que demonstra o papel fundamental dessas áreas na proteção dos ecossistemas aquáticos da Amazônia. As 53 restantes (14%) têm índice de impacto alto, muito alto ou extremo. O IIAA também aponta que 23% das unidades de conservação na Amazônia estão altamente afetadas. “Esses dados revelam que há um impacto significativo nesses territórios. Apesar disso, as áreas naturais constituem um dos mecanismos de defesa mais importantes para o manejo sustentável dos ambientes e devem permanecer protegidas”, ressalta Cecília.
Os impactos de atividades antrópicas reverberam por toda a bacia, pois a água é um recurso dinâmico, fluido e que carrega consigo os efeitos de tais atividades. Além disso, os danos causados são mais difíceis de serem identificados, entendidos e medidos. A construção do índice foi feita com base nos dados de ocorrência e distribuição das ameaças obtidos a partir de fontes públicas e gratuitas, entre elas, Projeto Mapbiomas, Rede Amazônica de Informação Socioambiental (RAISG) e Agência Nacional de Águas (ANA), além de dados extraídos de artigos científicos.
“Esperamos que o índice sirva de inspiração para novos estudos científicos, para ampliar o debate público sobre o tema e também para contribuir com informações que auxiliem na proposição de leis que garantam o futuro das águas da Amazônia. Estamos em plena emergência climática e assegurar a saúde de rios, lagos e igarapés é fundamental tanto para a viabilidade econômica quanto para qualquer anseio voltado à justiça social no Brasil”, comenta Thiago Medaglia, idealizador do projeto e fundador da Ambiental.
“Apoiamos o Aquazônia por ser um projeto que combina a investigação jornalística ao trabalho de pesquisa de cientistas especializados no assunto. Acreditamos que esse tipo de colaboração, na qual o cientista não é só fonte, mas parte da equipe, pode ter impactos positivos tanto no jornalismo quanto na ciência”, completa Natasha Felizi, diretora de Divulgação Científica do Instituto Serrapilheira.
Fonte: Instituto Serrapilheira
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/05/2022
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