Projeto Corredores Ecológicos restaura paisagens, beneficia animais e possibilita geração de empregos no Pontal do Paranapanema
Destaque no meio ambiental do Estado de São Paulo, o Pontal do Paranapanema, extremo do Estado de São Paulo, recebe um trabalho “gigante” que envolve componentes climáticos, comunidade e biodiversidade. Entre as metas que o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) almeja nos próximos cinco anos para a região estão 60 mil hectares de florestas protegidos, mais 5 mil hectares restaurados em novas florestas e agroflorestas, 15 milhões de árvores plantadas e em processo de regeneração.
Os projetos para a região são sempre relacionados à restauração de larga escala e também visam a conectar as áreas privadas com as unidades de conservação, entre eles os Corredores Ecológicos, que envolvem, principalmente, os municípios de Teodoro Sampaio, Mirante do Paranapanema, Euclides da Cunha Paulista e Marabá Paulista.
Coordenador de Projetos e Pesquisas do IPÊ, Laury Cullen Junior lembrou ao G1 que o Pontal do Paranapanema é uma das regiões do Estado com um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica paulista.
“É um importante ecossistema e a gente não quer plantar floresta de forma aleatória, a gente quer colocar todo esse esforço, essa visão e esse investimento no sentido da gente realmente conectar, fazer essa restauração de paisagens, à luz dos corredores ecológicos”, além de “promover a mudança de prática pelos agricultores, a gente tem um passivo ambiental enorme no Pontal”, declarou.
As equipes também trabalham sobre a chancela do Código Florestal, que exige de proprietários de terras públicas e privados a restauração de florestas. “A gente tem quase 60 mil hectares a serem restaurados e a gente quer, nos próximos cinco anos, restaurar no mínimo cinco mil hectares”, afirmou Cullen Junior.
O projeto de restauração da paisagem e florestas no Pontal do Paranapanema começou há aproximadamente 20 anos, por meio do Instituto de Pesquisas Ecológicas. Na metade desse tempo, o projeto, com suas grandes missão e ambição, ganhou um meio visual: o Mapa dos Sonhos.
Conforme Cullen Junior, o gráfico foi construído há cerca de dez anos e nele foi colocada a “visão de restauração dentro desse escopo dos corredores de vida”.
“Esse mapa mostra uma missão muito grande. São quase 60 mil hectares a serem restaurados dentro do que exige o Código Florestal nas reservas legais e nas Áreas de Preservação Permanente, mas a gente colocou essa meta a curto prazo, nos próximos cinco anos, de restaurar cinco mil hectares, que vão ajudar a consolidar esses corredores em ação hoje”, explicou ao G1.
As áreas de cor verde em tom mais escuro são as chamadas áreas remanescentes. A maior é onde está situado o Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio; depois há outros fragmentos florestais.
As áreas verdes em tom mais claro são corredores ecológicos já implantados e, em vermelho, são os espaços em implantação – ao norte e a oeste do PE Morro do Diabo.
O corredor oeste, segundo Cullen Junior, liga o parque estadual a um dos fragmentos da Estação Ecológica (Esec) do Mico-leão-preto, trecho que possui quase 1,3 mil hectares restaurados.
Há uma grande área que ainda não foi restaurada, então há uma “ambição já em ação”, que é o corredor ao norte do Parque Estadual do Morro do Diabo, que deve conectar o parque a outros fragmentos da Estação Ecológica do Mico-leão-preto.
O tamanho da área restaurada nos últimos 15 anos nesses dois corredores principais equivale a dois mil campos de futebol.
De acordo com Cullen Junior, o trabalho de restauração tem uma pergunta como base: “Como é que essas espécies enxergam essa paisagem?”. “Meio que a gente faz a restauração aos olhos dessas espécies”, comentou ao G1.
As espécies indicadas pelo pesquisador são as chamadas “detetives” ou “carros-chefes”, que vêm sendo estudadas a longo prazo, bem como monitorados com novas tecnologias, e ajudam os pesquisadores no entendimento da paisagem.
Já estiveram no “cargo” de detetives ecológicos as onças-pintadas, as onças-pardas, as jaguatiricas, as antas e os micos-leões-pretos.
“São espécies raras, endêmicas, muitas ameaçadas e que estão abrigadas nesses remanescentes da Mata Atlântica, e que precisam desses corredores, que precisam dessas florestas conectadas para ter a sua sobrevivência garantida a longo prazo, 50 a 100 anos”, explicou Cullen Junior ao G1.
Contudo, o coordenador lembrou que a região não conta somente com esses grandes mamíferos, há muitos outros da mesma classe, além de anfíbios, aves, e muitos outros. “É um ecossistema muito único que ocorre em transição com o cerrado e isso gera diversidade”, destacou.
De acordo com Cullen Junior, em relação à fauna, o Pontal tem aproximadamente 250 espécies de aves catalogadas. A flora também é muito rica e conta com espécies como o cedro, o jequitibá e os ipês, que só ocorrem em baixa densidade e que são muito consideradas na mata atlântica paulista.
Com quase 15 anos de história e florestas plantadas, o projeto dos Corredores da Vida também é interessante devido aos três componentes envolvidos, ainda de acordo com o coordenador de pesquisas e projetos do IPÊ:
Conforme explicou Cullen Junior, a questão climática está relacionada ao carbono. As florestas “sequestram” CO2 e neutralizam a emissão do gás. As compensações envolvem também grandes empresas, sempre dentro do escopo dos corredores.
No segundo componente, a comunidade é envolvida em qualquer serviço da cadeia da restauração. Nesse caso estão os assentados da reforma agrária e a agricultura familiar.
“A gente tem um número bem consolidado hoje no mercado da restauração; a cada mil hectares restaurados a gente envolve 200 empregos diretos, ou seja, esses empregos estão sempre envolvidos na cadeia da restauração, dos serviços prestados ou da própria produção de mudas, a gente tem os grandes viveiros comunitários na região que prestam esse serviço de produção de mudas, então todo hectare plantado envolve os comunitários”, explicou ao G1 o coordenador.
O ganho para a biodiversidade local compõe o terceiro pilar. A região tem, em especial, o mico-leão-preto, uma espécie endêmica e ameaçada, além de espécies como a anta e as onças-pintadas.
“Esses corredores são feitos pra isso, para trazer melhoria de clima, trazer geração de renda e trazer ganho pra biodiversidade, para essas espécies todas endêmicas e ameaçadas que ocorrem no Oeste Paulista”, salientou Cullen Junior.
“Eles têm baixa capacidade de locomoção em paisagens de pastagens e antropizadas, culturas agrícolas, eles ocorrem em baixa densidade, então eles precisam de uma forma de conexão pra eles encontrarem outros parentes próximos, então se isso não acontecer ocorrem sérios problemas genéticos que podem levar essa população à extinção num curto prazo”, comentou.
As florestas do Pontal do Paranapanema são formadas por áreas públicas estaduais e federais, que são o Morro do Diabo e a Esec Mico-leão-preto, respectivamente – juntas somam quase 40 mil hectares de terras – e privadas.
Além dessas duas áreas públicas, acredita-se que há mais uns 10 mil hectares em áreas privadas, “que são florestas que ocorrem em áreas de fazendas, que fazem parte das reservas legais, que nosso código florestal e a própria lei da Mata Atlântica exigem que sejam mantidas e conservadas”, conforme Cullen Junior.
É esse conjunto de florestas remanescentes que oferece a grande oportunidade de conservação de espécies, mas que também exige essas conexões por estarem isoladas e às vezes distantes uma das outras.
“Essas conexões são esses corredores ecológicos, que vão, no curto, médio e longo prazos, permitir que essas espécies se movimentem e evitem problemas sérios genéticos e demográficos”, afirmou o pesquisador ao G1.
Cullen Junior ainda enfatizou que são importantes as participações do ente público, mas só esse apoio não garante que essas espécies sobrevivam, por isso, e pela localização de remanescentes, existem as associações e parcerias com fazendeiros e assentamentos do Pontal.
Além disso, ainda são necessárias parcerias em longo prazo e acordos para que essas florestas fiquem em pé e que exista a possibilidade de envolver tanto os fazendeiros quanto os assentados nesse grande projeto de conservação.
“É importante enfatizar que a gente fala que são corredores de vida, mas são corredores de negócios também, porque, além de eles trazerem esse aspecto de conservação, essa restauração propicia esse negócio entre as entidades ambientais e esses grandes proprietários rurais, que estão cada vez mais pressionados pela lei florestal e pelos próprios ministérios públicos, a resolverem suas pendências ambientais”, afirmou.
O pesquisador ainda colocou que “ao mesmo tempo em que a gente consegue trazer conservação de espécies, de vida, a gente também consegue apoiar esses grandes proprietários a regularizarem ambientalmente as suas propriedades”. “Acho que é uma grande oportunidade de a gente trazer uma parceria e um Pontal bom pra todos”, disse.
“A gente consegue fazer um tripé muito interessante, onde o IPÊ consegue fazer essa visão de longo prazo com esse mapa dos sonhos, a governança na captação de recursos, os grandes ‘caras’ entram com essas grandes áreas e os pequenos proprietários entram com esses serviços; o que gera uma equação muito interessante”, argumentou o pesquisador.
Cullen Junior lembrou ao G1 do histórico de sérios conflitos relacionados à reforma agrária e ocupações de terra no Pontal do Paranapanema e ressaltou:
“Onde a gente sempre teve conflito entre o pequeno e o grande, o pequeno MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra], o assentado, a agricultura familiar, e o grande, hoje a gente tem negócios; hoje nós temos assentado ‘invadindo’, entre aspas, essas grandes terras, não pra busca de conflito, mas pra busca de conservação. Então, foi uma equação muito grande que a gente conseguiu resolver, unindo os grandes, os pequenos em prol da conservação da natureza”, salientou.
O coordenador de pesquisas do IPÊ ressaltou ainda a importância da instituição, com seus legado, permanência e presença a longo prazo, bem como seu papel de longa data na captação de recursos para oferecer o “ambiente de oportunidade de parceria”.
“Ganham todos. É uma situação que todos os lados ganham, ganha o proprietário, que tem sua propriedade regularizada ambientalmente à luz do Código Florestal, ganham as próprias comunidades rurais nesse aspecto de geração de renda, em termos de serviços e de venda de mudas, e ganham o IPÊ, as entidades, a ciência. Ganha a vida”, frisou ao G1.
O Pontal do Paranapanema é uma das últimas áreas que mais ganhou floresta nos últimos cinco anos, conforme contou Cullen Junior ao G1, com base em estatísticas do SOS Mata Atlântica, por meio do Atlas de Conservação da Mata Atlântica.
“Então, a gente não tem mais problema de desmatamento no Pontal, muito pelo contrário, a gente teve ganho de cobertura florestal. E essa nossa parceria vem junto com as próprias exigências do nosso Código Florestal de hoje e essa nova lei florestal exige e dá no máximo 20 anos pra que esses proprietários públicos e privados tragam essa floresta de volta; nem todos têm esse recursos”, declarou.
Por G1
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