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Patrimônios naturais são geradores de renda para comunidades locais

Nesta terça-feira, 17 de agosto, é celebrado o Dia Nacional do Patrimônio Histórico, o que automaticamente remete à riqueza histórica e cultural espalhada por todo o Brasil. Mas, desde 1972, com a Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), as áreas naturais passaram a integrar este rol, o que lhes confere mais um recurso em favor da preservação da biodiversidade. São locais de grande relevância simbólica, que consagra uma das maneiras mais efetivas para um povo preservar seu passado, cultura e tradições.

Um estudo da Universidade da Panônia, na Hungria, realizado a partir de análises estatísticas entre os patrimônios mundiais e dados do desempenho turístico de 129 países (entre 2014 a 2017), afirma que cidades que contam com patrimônios mundiais, sejam eles culturais, naturais ou mistos, aumentam a visitação turística. Aponta ainda que enquanto os patrimônios culturais atraem mais viajantes, os naturais geram mais receitas, possivelmente por demandar maior número de serviços. “Os resultados mostram que um novo patrimônio mundial natural pode gerar 1,4 milhão de novos turistas por ano e 4,6 bilhões de dólares extras em receitas de turismo”, concluem os pesquisadores.

“A preservação dos patrimônios deve estar no centro das políticas ambientais de qualquer país, dado os impactos não apenas sobre a biodiversidade, a cultura e a ciência, mas também sobre a economia”, afirma Maria Tereza Jorge Pádua, um dos nomes mais respeitados no Brasil e no exterior quando o assunto são áreas protegidas. “Eles são ‘livros’ que trazem o registro das experiências passadas, fundamentais para transmitir a história para as gerações futuras.” A pesquisadora, que é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), trabalhou durante 18 anos no Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF-Ibama) – onde chegou a ser presidente -, ajudando a criar mais de 9 milhões de hectares de áreas protegidas.

De acordo com a Unesco, milhões de pessoas no mundo são diretamente dependentes dos produtos e serviços que os patrimônios naturais geram, sendo que 90% deles criam emprego e renda a partir de atividades turísticas e recreacionais. Em outra perspectiva, o Banco Mundial informava, em 2019, que 54% dos empregos no turismo eram ocupados por mulheres.

Preservação

A Convenção da Unesco criou duas categorias de patrimônio histórico: cultural e natural. Desde então, as nações signatárias se comprometem a cuidar de suas áreas naturais da mesma forma que se preocupam com monumentos, sítios arqueológicos e construções diversas consideradas importantes para o país ou até mesmo para a humanidade.

Uma das grandes contribuições da Convenção foi justamente relacionar, em um único documento, a conservação da natureza e a preservação de propriedades culturais, reconhecendo a maneira como as pessoas interagem com o meio ambiente. “A natureza está no centro de como as sociedades nascem e se desenvolvem. A forma como elas se adaptam ao seu meio determina diversos comportamentos e hábitos culturais”, explica o gerente de Conservação da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Emerson Oliveira. A entidade mantém duas unidades de conservação no Brasil: a Reserva Natural Serra do Tombador, em Cavalcante (GO), protegendo uma área do Cerrado; e a Reserva Natural Salto Morato, em Guaraqueçaba (PR), dentro da Mata Atlântica, em uma área reconhecida pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade.

Seis importantes patrimônios naturais do Brasil:

Pantanal: a maior planície alagada do mundo é um dos patrimônios históricos naturais que mais representam o Brasil. Desde 2000, está inscrito na Lista do Patrimônio Natural Mundial da Unesco. O bioma brasileiro é refúgio para inúmeras espécies. De acordo com a SOS Pantanal, a região abriga pelo menos 3.500 espécies de plantas, 550 de aves, 124 de mamíferos, 80 de répteis, 60 de anfíbios e 260 espécies de peixes de água doce, sendo algumas delas em risco de extinção.

Parque Nacional Serra da Capivara: localizado no Piauí, o parque foi criado em 1979 para preservar vestígios arqueológicos da presença humana na região. Possui cerca de 130 mil hectares e entrou no Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan em 1993. Entre as espécies animais, segundo a plataforma WikiParques, destaca-se o mocó (roedor das caatingas), presente na região há pelo menos 30 mil anos. Há ainda registros de 33 espécies de mamíferos, 24 tipos de morcegos, 208 espécies de aves, 19 de lagartos, 17 de serpentes e 17 de sapos.

Grutas de Bonito: um dos destinos turísticos mais apreciados do Brasil, a cidade de Bonito (MS) é famosa por suas águas cristalinas e por suas grutas, duas delas tombadas pelo Iphan em 1978: a Gruta do Lago Azul e a Gruta de Nossa Senhora Aparecida. De acordo com o Iphan, “incrustadas em uma paisagem natural de rios de águas transparentes, as grutas integram um circuito de turismo ecológico” que envolve ações de sustentabilidade e conservação. Pesquisadores já encontraram, no lago subterrâneo da primeira gruta, fósseis de espécies já extintas que habitaram a região há mais de 12 mil anos.

Morro do Pai Inácio: monumento natural e geomorfológico do país, o morro é uma das principais atrações do Parque Nacional da Chapada Diamantina (BA), pois é dele que os visitantes podem observar toda a imensidão local. Entrou para o Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico do Iphan em 2000. Com 1.120 metros de altura, está numa área que conta com mais de 100 tipos de orquídeas, além de outras espécies de flora, como bromélias, cactos, begônias, trepadeiras e sempre-vivas. Entre os animais, destaque para o beija-flor-gravatinha-vermelha, que só pode ser encontrado na região.

Chapada dos Veadeiros e Emas: os parques nacionais da Chapada dos Veadeiros e das Emas, no estado de Goiás, formam uma área que integra a lista de Patrimônios da Humanidade desde 2001. Juntas, protegem 381 mil hectares do Cerrado, um bioma tipicamente brasileiro. “Durante milênios, esses locais serviram de refúgio para diversas espécies durante períodos de mudanças climáticas e serão vitais na manutenção da biodiversidade do Cerrado durante futuras flutuações climáticas”, alerta a Unesco. Além das trilhas e cachoeiras, a biodiversidade é a grande atração dos parques, onde é possível a observação de animais como tamanduá-bandeira, cachorro-do-mato, ema, anta, onça-pintada, tatu-canastra e o lobo-guará.

Reserva Biológica Atol das Rocas: juntamente com o arquipélago de Fernando de Noronha, o Atol das Rocas é patrimônio histórico natural do Brasil reconhecido pela Unesco. O Atol das Rocas é a primeira reserva marinha do país, tendo sido criada por Maria Tereza Jorge Pádua em 1979. Fica a 130 quilômetros de Noronha e, ao contrário do arquipélago, não é aberto a visitações, servindo como santuário para a vida marinha e para fins científicos. É o único atol (coral em formação circular) do Atlântico Sul, com 35 mil hectares e gerido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). De acordo com o WikiParques, 147 espécies de peixes já foram catalogadas ali, sendo uma delas a Stegastes rocasensis (donzela-de-rocas), batizada em homenagem ao atol.

Por Ecodebate

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