Mudanças climáticas podem reduzir 80% da agricultura africana até 2050
A produção agrícola de alimentos básicos em oito países africanos pode cair em 80% até 2050, caso as temperaturas do planeta continuem aumentando devido às mudanças climáticas. A previsão alarmante está em um relatório divulgado no dia 27 de outubro pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida) da Organização das Nações Unidas (ONU).
De acordo com a organização, isso pode ter um impacto catastrófico, aumentando a pobreza e fome no continente. Se nenhuma mudança for feita, haverá condições mais secas e um aumento de 2°C nas temperaturas globais, devastando as safras básicas de pequenos agricultores em partes da Angola, Lesoto, Malawi, Moçambique, Ruanda, Uganda, Zâmbia e Zimbabwe. Na província angolana de Namibe, no pior cenário, a produção anual de milho por família poderá cair em 77%.
Além disso, o fundo alerta que a Conferência do Clima (COP26) não terá repercussão duradoura se os líderes mundiais continuarem tentando só atenuar a situação global, deixando de fora o investimento em recursos de adaptação climática aos agricultores. A reunião da ONU começou em Glasgow, na Escócia, neste domingo (31) e irá até 12 de novembro, reunindo autoridades de quase 200 países.
Entre outros assuntos, a COP26 irá discutir o compromisso não cumprido que as nações mais ricas assumiram há seis anos de mobilizar 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático para países menos desenvolvidos até 2020. Mesmo se fosse alcançada, a meta seria insuficiente, já que os custos nos estados mais pobres são estimados em 140 a 300 bilhões de dólares por ano até 2030.
Outro problema é que os poucos recursos são focados só em mitigar o aquecimento global: para cada US$ 18 gastos nisso (cerca de R$ 102), apenas US$ 1 dólar (R$ 5,68) é destinado a adaptações agrícolas. “Embora os esforços de mitigação sejam essenciais, eles levarão duas ou três décadas para dar frutos. Devemos investir urgentemente na adaptação agora para que os pequenos agricultores, como os deste estudo, possam continuar a cultivar as safras das quais tiram sua renda e alimentar suas nações”, afirma Jyotsna Puri, porta-voz da FIDA, em comunicado.
Entre as possíveis alternativas de adaptação agrícola está plantar safras alternativas e diversificadas, por exemplo, reduzindo a dependência do milho em favor do feijão, outras leguminosas ou grãos. Também é preciso aderir diferentes técnicas de plantio, com sementes e material vegetal aprimorados, gerir melhor a irrigação e fortalecer a infraestrutura, estabelecendo cadeias de valor à prova das mudanças climáticas.
Isso tudo é muito importante, considerando que um terço dos alimentos do mundo são produzidos por pequenos agricultores dos países em desenvolvimento. Em algumas áreas da África e da Ásia, essa importância na produção chega a mais de 80% do que é cultivado, mas, ainda assim, os profissionais locais recebem menos de 2% dos fundos globais de financiamento climático, de acordo com a Fida.
As consequências disso podem ser desastrosas, resultando na queda na produtividade das safras e no aumento dos preços dos alimentos. Com isso, piora a fome e a miséria, que desencadeiam eventos de migração e conflitos. Não por acaso, uma em cada dez pessoas passou situação de fome em 2020 — e, na África, isso foi especialmente pior, chegando a um em cada cinco indivíduos.
Esta matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Saiba mais em umsoplaneta.globo.com.
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