Guardiões do (seu) futuro: quem são os jovens ativistas do clima
- Reportagem: A. J. Oliveira e Bruna Scorsatto, da Agência Nheengatu | Edição: Thiago Tanji | Foto (retrato): Bruna Scorsatto | Foto (still): Tomás Arthuzzi | Design e ilustração: May Tanferri | Ícones: Carol Malavolta
No dia 20 de agosto de 2018, a sueca Greta Thunberg, então com 15 anos, cabulou aula. Faltou à escola por um ato de rebeldia, sim, mas definitivamente não era um protesto sem causa: ela passou aquele dia sentada em frente ao parlamento sueco, só ela e seu cartaz com os dizeres “greve de escola pelo clima”.
Daqui a algumas décadas, seu protesto solitário e silencioso contra a ineficiência dos governantes em resolver a crise climática pode muito bem ser encarado como um momento histórico. A mensagem de Greta é simples, mas arrebatadora em sua força e autenticidade. A garota carrega na simplicidade de seus questionamentos profundas implicações lógicas e filosóficas: para que ir à escola se não terei futuro? Por que se preocupar em aprender qualquer coisa se os políticos escolhem ignorar os fatos científicos?
Greta ficou em frente ao parlamento sueco por três semanas, postando tudo nas redes sociais. Sua resistência pacífica teve enorme repercussão e centenas de jovens foram se juntando a ela. Seu modo de protestar viralizou na internet e as greves se espalharam mundo afora. O magnetismo da causa de Greta, hoje favorita ao Nobel da Paz por seu ativismo climático, deu origem ao movimento Fridays for Future (FFF), ou Sextas pelo Futuro, em que estudantes faltam às aulas às sextas-feiras para participar de manifestações.
A
grande bandeira do FFF é pressionar os governantes a dar ouvidos para a
ciência e tomar atitudes concretas para limitar o aquecimento global a
1,5°C, como recomenda o IPCC.
Em um ano de existência, o movimento criado por Greta Thunberg já está em mais de cem nações, inclusive no Brasil.
Com as recentes queimadas na Amazônia, espera-se que as greves de estudantes pelo futuro ganhem força. Na primeira grande mobilização internacional, em março, 19 cidades brasileiras participaram dos atos, segundo a FFF. Em setembro, a articulação já chegou a 18 estados brasileiros.
“Uma das coisas mais legais do movimento é essa conexão nacional que estamos fazendo, é algo muito bonito e forte conseguir juntar jovens de vários estados diferentes lutando pela mesma coisa”, diz Nayara Almeida (21), estudante de Ciências Biológicas na UFRJ e uma das líderes do FFF Brasil.
Um dos aspectos mais inspiradores do ativismo criado por Greta Thunberg foi o de empoderar jovens do mundo todo a exigir a ação climática, com protagonismo especialmente de garotas. Jovens lideranças, de diversas origens e bagagens, surgiram mundo afora. Uma delas é o cacique Mapu Huni Kuin, do povo Huni Kuin, que habita a zona rural de Rio Branco (AC).
Em agosto, durante apenas três horas, metade da área florestal da comunidade foi destruída em uma queimada. Cinco dos dez hectares se perderam. “A floresta é nosso corpo, nossa casa, nosso espírito”, diz. “Se destroem a floresta, estão nos destruindo.”
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