Gelo coletado nos Alpes contém o registro climático dos últimos dez mil anos
A Terra possui uma complexa dinâmica entre seus sistemas e, entre eles, existe a criosfera, nome da camada de gelo presente na superfície do planeta. Essa água congelada desempenha não apenas um importante papel para o clima global, como também é responsável por preservar a memória climática ao longo de milhares de anos. Como parte do projeto internacional Ice Memory, cientistas coletaram amostras de gelo nos Alpes, que preservam o registro do clima dos últimos 10.000 anos.
O programa Ice Memory é um trabalho internacional que busca coletar e preservar núcleos de gelo encontrados em geleiras e no alto das montanhas da Terra, antes que o aquecimento global derreta boa parte desses registros. Para isso, os pesquisadores do projeto se dedicaram a uma expedição de cinco dias na geleira Gorner, localizada a 4.500 km de altitude no Monte Rosa, que faz pate dos Alpes Peninos. Os quatro núcleos de gelo coletados serão armazenados na Antártida.
O professor de química analítica Carlo Barbante, da Ca’ Foscari University, na Itália, que é pesquisador do programa, diz que a missão foi um sucesso, pois ele e sua equipe coletaram núcleos de gelo com mais de 80 m de profundidade que contém informações sobre o clima de muito tempo atrás. “A equipe trabalhou bem apesar das condições climáticas adversas, com fortes rajadas de vento e neve. Agora, este precioso arquivo da história do clima dos Alpes será preservado para o futuro”, acrescenta Barbante.
A geleira escolhida para a pesquisa é a segunda maior região dos Alpes, com uma área total estimada em 40 km quadrados, mas análises recentes apontam que, desde meados do século XIX, ela já perdeu cerca de 40% de toda sua área. Em outras palavras, os tubos de gelo foram coletados antes que fossem perdidos com o aquecimento global. “Se perdêssemos arquivos como este, perderíamos a memória de como a humanidade alterou a atmosfera”, ressalta Fabio Trincardi, diretor do Departamento de Ciência do Sistema Terrestre e Tecnologias Ambientais do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália.
Esta já é a terceira expedição realizada pelo projeto Ice Memory. Desde 2015, quando foi lançado por glaciologistas franceses, italianos e suíços, o trabalhou já desenvolveu parceria com cientistas e grupos de pesquisa de todo o mundo. O objetivo é preservar os núcleos de gelo para futuros estudos em um banco de dados com acesso aberto. Espera-se que, em 2022, a instalação de armazenamento em uma caverna de neve na Antártida seja concluída. Pesquisas como esta são fundamentais para entender a complexa dinâmica do clima global ao longo do tempo, bem como para fornecer algumas pistas do que poderemos enfrentar nas próximas décadas.
O projeto também prevê que, até o final deste século, geleiras localizadas abaixo de 3.000 m nos Alpes, e abaixo de 5.400 m nos Andes, serão extintas. Com isso, muitas evidências científicas preservadas nesse gelo antigo também serão perdidas. Tiziana Lippiello, Reitoria da Ca’ Foscari University, diz que o clima está em estado de emergência. “Para enfrentar essa crise, precisamos entender as causas e encontrar as soluções possíveis, então a pesquisa e o ensino são necessários”, aponta.
Por Canaltech
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