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Desmatamentos na Amazônia e Cerrado atingem área equivalente a 11 cidades de São Paulo de agosto de 2018 a julho de 2019

Dois dos maiores biomas do país, a Amazônia e o Cerrado perderam juntos 16,1 mil km² de floresta entre agosto de 2018 e julho de 2019. A área desmatada equivale a 11 cidades de São Paulo, que tem 1,5 mil km² de extensão, segundo o IBGE.

Na Amazônia, foram derrubados 9,7 mil km² de floresta – aumento de 29,5% em relação ao período anterior. No Cerrado, foram devastados 6,4 mil km²de vegetação – queda de 2,26%.

O período de referência é usado pelo governo para medir as taxas oficiais de desmatamento e leva em conta a sazonalidade das regiões, com períodos de chuvas e secas. Os dados são do Sistema Prodes, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência.

Enquanto na Amazônia o desmatamento ocorre sobre terras públicas “sem dono”, que são alvos de grilagem; no Cerrado, a devastação se dá em terras legalizadas, impulsionada pelo agronegócio, de acordo com especialistas ouvidos pelo G1.

Infográfico mostra a localização dos biomas Amazônia e Cerrado  — Foto: Rodrigo Cunha/G1

Infográfico mostra a localização dos biomas Amazônia e Cerrado — Foto: Rodrigo Cunha/G1

Cerrado: a expansão agrícola

  • 2.03.448 km² de área total
  • Abrange 23,9% do país
  • 6.484 km² desmatados de Ago/2018 a Jul/2019
  • Presente no: AP, MA, PI, RO, DF, GO, MT, MS, MG, SP, TO e BA

O Cerrado perdeu 6.484 km² de vegetação entre agosto de 2018 e julho de 2019. O número representa queda de 2,26% em relação ao período anterior, mas especialistas alertam: o bioma ainda está em risco, já que resta pouca mata original preservada. Nesta região, o desmate ocorre em propriedades particulares que estão expandindo a produção agrícola, afirmam.

De acordo com a ONG WWF, mais da metade da área original do bioma já se converteu em área de pastagem ou cidades – 10% da população do país vive no Cerrado.

Infográfico mostra a evolução das taxas de desmatamento do Cerrado, de 2001 a 2019 — Foto: Elida Oliveira/G1

Infográfico mostra a evolução das taxas de desmatamento do Cerrado, de 2001 a 2019 — Foto: Elida Oliveira/G1

“O Cerrado vive uma tragédia silenciosa, pois continua a ser destruído por falta de políticas responsáveis”, afirma Mauricio Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil. Para ele, não seria necessário desmatar para expandir a agricultura, pois já há área suficiente para as plantações.

“Temos hoje 23 milhões de hectares de áreas já abertas com alta aptidão agrícola para soja (cultura que representa 80% do que é produzido no Cerrado) e outros 15 milhões de hectares abertos e com potencial para cultivar outras culturas, somando 38 milhões de área aberta”, declara Voivodic.

“Enquanto na Amazônia você tem cerca de 40% de terras privadas, no Cerrado este percentual é de 80 a 85%”, afirma Mario Barroso, coordenador de monitoramento na The Nature Conservancy (TNC) Brasil. “É muito claro que este desmatamento tem a ver com expansão de área agrícola”, declara.

Além de ser pouco o que ainda resta preservado, as áreas estão fragmentadas, afirma Gustavo Malacco, da Rede Cerrado e diretor da ONG Angá. “Talvez estejamos chegando em um nível em que não seja possível recuperar as funções ecossistêmicas deste bioma”, alerta.

Seis das oito grandes bacias hidrográficas brasileiras estão no Cerrado e 90% das águas do Rio São Francisco vêm desta região, segundo a ONG WWF.

“É muita mata derrubada, ainda mais porque o Cerrado tem pouca vegetação nativa de pé [em comparação à Amazônia], e levando em consideração a importância que o bioma tem na recarga das principais bacias hidrográficas do país”, diz Malacco.

Os estados do Cerrado que lideram o desmatamento no período são Tocantins (1,4 mil km²) e Maranhão (1,3 mil km²), que fazem parte da expansão da nova fronteira agrícola conhecida como “Matopiba” – que une as siglas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Os dois últimos estados estão na 4ª e na 7ª colocação entre os mais desmatadores do bioma.

“São estados onde há intensa mudança de uso de solo. Há o desmatamento para a entrada do gado, o que exige pouco investimento e tecnologia, e para a soja, com perfil de investimento que exige mais recursos para os maquinários”, analisa Barroso.

Verde da árvore contrasta com o cinza da paisagem do cerrado após área ter sido atingida por incêndio florestal em setembro — Foto: Luiz Felipe Mendes/Arquivo Pessoal

Verde da árvore contrasta com o cinza da paisagem do cerrado após área ter sido atingida por incêndio florestal em setembro — Foto: Luiz Felipe Mendes/Arquivo Pessoal

Amazônia: grilagem e a ocupação de terras públicas

  • 4.196.943 km² de área total
  • Abrange 49,29% do país
  • 9.762 km² desmatados de Ago/2018 a Jul/2019
  • Presente no: AC, AP, AM, MT, PA, RO, RR, TO e MA

A devastação do maior bioma do país ocorre principalmente sobre terras “sem dono”, ou seja, áreas públicas que que não são nem unidades de conservação, nem terra indígena, nem destinadas à venda. Com isso, se tornam alvo de grilagem – quando a terra é invadida por criminosos que desmatam, queimam, e colocam gados sobre o pasto que sobra, para depois revender com documentos falsos, “legalizando” a área invadida.

Desmatamento na Amazônia - dados do Prodes — Foto: Rodrigo Sanches/G1

Desmatamento na Amazônia – dados do Prodes — Foto: Rodrigo Sanches/G1

Uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), e divulgada pelo G1 em novembro, aponta que 41% dos 9.762 km² desmatados no bioma entre agosto de 2018 e julho de 2019 foi em terras públicas e áreas protegidas.

As terras da União e dos estados somam 27% da devastação no período. Já as áreas protegidas, que deveriam ter desmatamento zero, correspondem a 14% da área degradada: 5% em unidades de conservação; 4% em terras indígenas e 5% em áreas de proteção ambiental.

A devastação ocorre em grandes escalas. Um relatório da organização Human Rights Watch, divulgado em setembro, aponta que o desmatamento na Amazônia está ligado a uma rede de criminosos que paga por mão de obra, por grandes maquinários (motosserras, tratores, correntes, caminhões), e até por proteção de milicianos armados que ameaçam quem tenta denunciar os crimes.

A HRW aponta a falta de fiscalização como um dos problemas. Segundo o relatório, em 2009, havia 1600 inspetores do Ibama no Brasil. Em 2019, são 780 — e apenas uma fração deles está na Amazônia, segundo o relatório. No Pará, são 8 inspetores para cuidar de uma área do tamanho da França. Na Funai, de 3.111 funcionários em 2012, restaram apenas 2.224 em 2019.

27 de agosto - Estrada separa área de floresta de árvores chamuscadas por queimada em Vila Nova Samuel (RO). A alta no número de queimadas na Amazônia este ano foi tema recorrente e chamou atenção internacional — Foto: Victor R. Caivano/AP

27 de agosto – Estrada separa área de floresta de árvores chamuscadas por queimada em Vila Nova Samuel (RO). A alta no número de queimadas na Amazônia este ano foi tema recorrente e chamou atenção internacional — Foto: Victor R. Caivano/AP

Por G1

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