Biólogo de São Paulo divulga livro gratuito para ensinar ilustração em grafite


Numa folha qualquer, o biólogo de 23 anos Lucas Souza transforma aves, peixes, insetos e mamíferos em obras de arte. Do trabalho como ilustrador científico veio a busca por ampliar a divulgação dessa profissão e o contato das pessoas com a importância da conservação através da arte. Por conta disso, no projeto mais recente do ilustrador, um livro digital gratuito ensina técnicas básicas para os desenhos em grafite.
A ideia de elaborar o material surgiu através da bagagem adquirida por outros cursos feitos. Lucas, que sempre foi autodidata, percebeu mais adulto como o conhecimento teórico modificava sua relação com os traços e decidiu repassar algumas dicas diante da técnica dominada.
“Tentei fazer um material bem completo e sobre um conhecimento básico que, compartilhado de graça, iria ajudar muitas pessoas. As técnicas são muito parecidas para qualquer tipo de desenho e, por isso, a parte prática pode ser aproveitada por qualquer pessoa”, explica.
O livro digital ensina formas de se obter luz e sombra, de elaborar formas básicas, de variar as tonalidades e até traz instruções sobre os tipos de materiais usados. O download do material pode ser feito no próprio site do ilustrador, local onde ele também divulga os trabalhos de ilustração que demandam, em algumas situações, até meses para serem concluídos.
Desde criança, a trajetória de Lucas no desenho já havia sido traçada. Era muito pequeno quando desenhava carros, aviões e personagens de animação. Até por conta disso, a escolha entre ser piloto de avião, design de jogos ou até arquiteto esteve entre os dilemas com a chegada da vida adulta. A decisão pelo curso de Biologia como formação, porém, pareceu afastá-lo do ramo das artes.
“Foi um mundo novo, porque fui descobrindo a Biologia de uma forma muito mais aprofundada e estava gostando um pouco de tudo. Até que chegou o momento de fazer uma pesquisa para me formar. O tema era bioquímica e câncer infantil. Passava o dia no laboratório, fazendo experimentos, uma rotina bem monótona e, no final, percebi que aquilo não era para mim”, conta.
No refúgio dos traços e da criatividade, Lucas encontrou uma resposta para esse entrave. “Desenhei uma iguana em grafite e este foi o marco: decidi que era aquilo que queria fazer para a minha vida. Comecei a me dedicar muito mais e percebi que, com esse esforço diferente, poderia fazer desenhos muito legais”, relembra.
Diferentemente de outros tipos de desenho, a ilustração científica exige a fidelidade com o mundo real. “Esse tipo de ilustração é utilizada por um público que vai propagar um conhecimento, então o intuito é passar informação. Essa é a característica mais importante: fazer a asa de uma ave é mostrar as penas na organização, escala, proporção, quantidade e cores exatamente como são vistas na vida real”, descreve o ilustrador.
Atingir esse nível de fidelidade exige prática e esforço. Embora Lucas trabalhe há apenas um ano e meio na área, ele acredita que sua habilidade derive do hobby de infância. “Todos esses anos, observava objetos e tentava fazer igual ao que via e isso é praticamente uma regra da ilustração científica: você tem que sempre usar referências, modelos reais, fotografias”, explica.
Ensinar essas noções adquiridas intuitivamente foi um desafio e continua, ainda, como uma barreira a ser quebrada. “Ensinar é muito diferente de desenhar e esse é até um dos motivos para eu não ter feito um curso meu ainda, porque ainda quero aprender a ensinar para garantir que o curso será o melhor possível”, afirma.
Independente dos desafios, Lucas desde já pretende passar uma mensagem com as obras. “A ilustração científica, quando espalhada para o público, acaba tendo um efeito de conscientização, porque é muito comum alguém ver um desenho de uma espécie que não sabia que existia no país. Além disso, é muito importante divulgar a profissão em si e o valor que ela passa sobre conservar a natureza”.
Por G1
0 Comentários