Abelhas deixam ninhos mais cedo para cada aumento de 1°C, alerta estudo
A mudança climática tem uma gama diversificada de impactos sobre a biodiversidade. Além contribuir para a disseminação de doenças, a extinção de espécies e o estresse da fauna e da flora, esse fenômeno também pode mudar a maneira com que os animais e insetos se comportam – neste caso em especial, as abelhas. Mudanças climáticas podem afetar 40% da biodiversidade da Caatinga até 2060
Conforme a temperatura na Grã-Bretanha sobe, as abelhas selvagens estão começando a sair de sua hibernação mais cedo. Uma equipe de pesquisadores descobriu que para cada aumento de 1°C na temperatura da região, os insetos emergem de seus ninhos 6,5 dias antes do esperado, em média. Os detalhes desse estudo foram descritos em um recente artigo publicado na revista Ecology and Evolution.
Essa mudança fenológica causada pelo clima pode não apenas impactar indivíduos em nível de espécie, mas também ameaçar o serviço vital de polinização que as abelhas selvagens fornecem tanto para plantas silvestres quanto para vegetações cultivadas.
Acordando mais cedo
A primavera britânica tem início em março. Porém, o calor faz com que as abelhas despertem antes, resultando num desencontro entre a atividade desses insetos e o desenvolvimento das plantas de que eles dependem (e que também dependem deles). Isso significa que as abelhas podem não ter energia para polinizar as plantações de forma eficaz, ou podem perder completamente o período de floração de algumas espécies vegetais.
“Combinar as datas de despertar com a floração das plantas é vital para as abelhas que acabaram de sair de seus ninhos, porque elas precisam encontrar pólen e néctar para aumentar suas chances de sobrevivência e produzir descendentes”, aponta Chris Wyver, da Escola de Agricultura, Política e Desenvolvimento da Universidade de Reading, no Reino Unido, em comunicado.
Apesar do papel essencial das abelhas na polinização, pouco se sabe sobre mudanças fenológicas delas – especialmente daquelas encontradas na Grã-Bretanha. Para entender de fato esse fenômeno, o estudo recente examinou 88 espécies diferentes de abelhas selvagens durante um período de 40 anos. A ideia era analisar mudanças nas datas de saída dos animais dos seus ninhos tanto ao longo do tempo quanto em relação à temperatura.
Ao todo, mais de 350 mil registros individuais foram levados em conta. Os dados mostraram que algumas abelhas emergem mais cedo do que outras, pois espécies respondem de maneiras diferentes à mudança de temperatura. Mas, em média, os 88 tipos de abelha analisados estão emergindo quatro dias antes do esperado a cada década.
“Para mudanças nas datas de saída do ninho tanto ao longo do tempo quanto em relação à temperatura, houve variação específica por espécies, com 14 delas apresentando mudanças significativas em relação ao tempo e 67 com avanços em relação à temperatura”, também notaram os autores em seu estudo.
A alteração no despertar desses insetos também terá um efeito maior nas plantas que dependem fortemente da polinização, segundo os pesquisadores. Esse é o caso das macieiras, que podem não estar prontas para florescer quando a hibernação das abelhas terminar.
“Menos polinização natural pode levar os agricultores a usar abelhas manejadas. Isso leva a custos maiores, os quais podem ser repassados aos consumidores. Como resultado, podemos ver maçãs, peras e vegetais ainda mais caros nos supermercados”, explica Wyver.
Além desse estudo recém-publicado na Ecology and Evolution, Wyver criou com colegas pesquisadores o FruitWatch, um projeto que incentiva as pessoas a relatar quando as árvores frutíferas em seus jardins, parques ou lotes começam a florescer. Essas informações ajudarão os cientistas a ter uma maior compreensão do papel que as mudanças climáticas têm no florescimento de árvores frutíferas e na polinização das abelhas.
Por Galileu
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