Vila no Senegal ganha escola circular de terra, bambu e palha
Desde tempos imemoriais, o círculo estimula conversas, partilhas e troca de saberes. É em forma circular que crianças aprenderão e se desenvolverão na vila rural de Fass, no leste do Senegal.
Projetada pelo escritório de arquitetura Toshiko Mori, com sede em Nova York (EUA), a escola de bioconstrução foi projetada para 300 alunos de cinco a 10 anos. Quase tudo foi feito com materiais construtivos disponíveis localmente, reduzindo o impacto de transporte ao vilarejo.
As paredes da escola circular foram edificadas com blocos de terra compactados (BTC), um tijolo ecológico (também chamado de tijolo de solo-cimento) feito de solo arenoso, água e, geralmente, um pouco de cimento ou cal e adensada em molde por meio de compactação ou prensagem. Isso quer dizer que ele não passa pelo processo de queima.
Segundo a premiada arquiteta japonesa Toshiko Mori, o governo local exige o uso de metal nos telhado escolares, o que gera ao menos dois problemas: muito ruído em época de chuvas e calor excessivo no verão. Ela então optou pelo uso de palha e vigas de bambu no telhado.
Cultivados regionalmente, o bambu e a palha ajudam a abafar o som das chuvas e reduzir o calor interno. Também a escolha por blocos de terra contribuem para maior conforto térmico e acústico, além de garantir uma obra mais barata.
Batizada de Fass School and Teachers Residence, a escola circular possui quatro salas de aula em tamanhos diferentes, dois espaços abertos e flexíveis, além de um pátio central. O mix de ambientes facilita a adaptação para diversos fins.
Inspiração ancestral
A ideia de construir a escola circular veio da região de Casamance no Senegal. Por lá, uma habitação típica é o Impluvium (em latim) – um edifício circular em taipa com abertura central que permite a coleta de água da chuva. Tal ambiente permite frescor mesmo no verão, quando a água acumulada evapora.
Também é chamado de implúvio o próprio tanque coletor de água pluvial que existia nas casas dos antigos gregos, etruscos e romanos.
“A Escola Fass usa essa geometria vernácula, mas a aplica em uma escala muito maior, tornando o edifício em um local de reunião familiar e comunitária, mas incrivelmente icônico na paisagem circundante”, afirmou Toshiko ao Dezeen.
Além da inspiração nas habitações tradicionais, para Toshiko, a orientação interna das salas de aula para o pátio central e o telhado contínuo “reforçam o sentimento de comunidade promovido por um ambiente escolar compartilhado, mesmo em diferentes grupos etários”.
Para sair do papel, o projeto teve a colaboração da Fundação Josef e Anni Albers e a Organização sem fins lucrativos Le Korsa.
Por Ciclovivo
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