Temporada seca está mais longa na Amazônia
No início do século, os cientistas temiam que o período de estiagem na Amazônia aumentasse em quatro semanas como resposta ao desmatamento local e ao aquecimento global. Isso já aconteceu, e agora os pesquisadores temem que a temporada de estiagem deste bioma essencialmente úmido fique ainda mais prolongada.
Neste dia 5 de Setembro, Dia da Amazônia, perguntamos ao professor Carlos Nobre por que a duração da estação seca é um indicador preocupante sobre o estágio de degradação desse bioma. Ele é um dos maiores especialistas na relação entre a mudança do clima e a floresta amazônica e explica que o impacto do aquecimento global naquela região já está bastante elevado porque o desmatamento agrava as condições climáticas.
“A mudança observada até o momento sugere que a estação seca está aumentando uma semana por década. Antes, a estação seca durava de 3 a 4 meses, hoje já é de 4 a 5 meses, e está passando a ser de 5 a 6 meses. Uma região tropical com estação seca de 5 a 6 meses corresponde ao normal para uma savana, como é o clima do nosso Cerrado”, explica Nobre. “Se mantida esta velocidade, a floresta tropical como conhecemos, com suas grandes árvores, entrará em declínio e desaparecerá já nas próximas décadas.”
Mais desmatamento, secas mais longas
Segundo Nobre, quando se compara as estações secas desde a década de 1970 até o ano de 2021, em praticamente toda a região sul da Amazônia brasileira, a temporada de estiagem aumentou em quatro ou cinco semanas.
Ele explica que o aumento de cinco semanas foi observado sobretudo nas regiões onde houve mais desmate. Por outro lado, o aumento em toda a borda da floresta mostra que a elevação das temperaturas globais por si só são uma ameaça para as condições de umidade da floresta. Ou seja, os dois processos que estão ameaçando a umidade da Amazônia – o aquecimento global e o desmatamento – atuam em sinergia, explica o professor.
O aquecimento global é causado pela emissão de gases de efeito estufa, principalmente aqueles liberados pelo uso de combustíveis fósseis – petróleo, gás e carvão. Outra causa do aquecimento global é o desmatamento. Isto porque todo carbono captado pelas plantas é lançado novamente na atmosfera quando elas se decompõem ou queimam.
Estiagem mais longas, secas mais extremas
A duração mais longa das estiagens está induzindo uma maior frequência de secas extremas na Amazônia. “Estamos tendo mais do que duas secas extremas por década”, diz Nobre, citando os anos de 2005, 2010, 2015, 2016 e 2020. “Ao mesmo tempo, temos essa imensa região ao sul da Amazônia, com mais de 2 milhões de quilômetros quadrados, sendo desmatada e substituída por pastagens, que reciclam muito menos água”, explica o pesquisador.
É este processo que, segundo o estudioso, impacta o regime de chuvas, aumenta a duração da estação seca e faz com que secas extremas sejam mais comuns agora e no futuro.
Mais seca, menos Amazônia, menos chuva
Nobre explica que é a capacidade da floresta de reciclar a água que umidifica a atmosfera e cria as condições para o início da estação chuvosa, o chamado inverno amazônico, que distribui umidade para a formação de chuvas em todo o continente sul-americano. Para o professor, se o processo de degradação não for freado agora, não será possível que a Amazônia exista como floresta no futuro.
“Não há como manter uma floresta úmida com 5 ou 6 meses de seca anual. Grande parte da floresta vai desaparecer sob essas condições, passando a ser um ecossistema de dossel aberto”, explica o pesquisador. A floresta amazônica é um bioma de dossel fechado, ou seja, tem grandes copas de árvores que fazem sombra permanente sobre o solo, mantendo a temperatura mais baixa e a terra molhada.
“Poucas árvores, muitas gramíneas e arbustos – este é o quadro que estamos vendo se desenhar na região amazônica”, lamenta Nobre.
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