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Rios árticos estão mudando mais rápido do que estimado, revelam satélites

Os árticos são bastante importantes para a humanidade: eles fornecem água e energia para mais de 50 milhões de pessoas, regulam a produtividade biológica dos ecossistemas terrestres e marinhos e impactam a circulação de águas no Atlântico Norte (que, por sua vez, afeta o clima global). Agora, um novo estudo indica que eles estão despejando muito mais água no oceano do que o imaginado.

Em artigo publicado na revista Nature Communications, cientistas revelam que a descarga fluvial — o volume de água que passa pelos rios em um certo período — é de 1,2 a 3,3 vezes maior do que havia sido estimado anteriormente. “Mostramos que até 17% a mais água do que se pensava anteriormente foi para o Oceano Ártico”, declara, em nota, o pesquisador Colin Gleason, professor de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Massachusetts.

O estudo analisou dados de 1984 a 2018 sobre todos os rios árticos que eventualmente desaguam no Oceano Ártico, no Estreito de Bering e nas baías de Hudson, James e Ungava, excluindo o manto de gelo da Groenlândia. Nomeado Remotely-sensed Discharge Reanalysis (RADR), o projeto contou com financiamento da Nasa e da Fundação Nacional da Ciência, dos Estados Unidos.

Para este estudo, que é considerado o mais preciso atualmente, a equipe integrou mais de 155 mil imagens de satélites e 486 mil pesquisas com simulações baseadas em modelos hidrológicos, além de utilizar dados de medidores instalados em rios. Antes, as investigações que pretendiam calcular quanta água estava sendo despejada no Oceano Ártico focavam majoritariamente nos medidores e somente em alguns rios.

Dessa vez, cientistas optaram por não depender exclusivamente desses dispositivos, que são caros, exigem manutenção frequente e não estão presentes em todos os locais. Gleason caracteriza o trabalho do RADR com satélites como uma assimilação de dados muito sofisticada. “Ninguém tentou fazer isso nessa escala: ensinar aos modelos o que os satélites viam diariamente em meio milhão de rios”, destaca.

A partir desse processo, descobriu-se ainda que o aumento da descarga fluvial não foi geograficamente homogêneo nessas três décadas. “Nós identificamos diferenças regionais bastante significativas”, diz Dongmei Feng, professora assistente de pesquisa. “Alguns lugares mostraram elevação, mas outros mostraram diminuição. E descobrimos que a América do Norte e a Eurásia têm padrões distintos”, explica.

Feng afirma que os novos dados devem gerar reflexos nos estudos sobre crise climática. Isso porque o Ártico tem componentes sensíveis ao aquecimento da Terra e sua hidrologia é desproporcionalmente afetada pelas mudanças do clima. “Alterações nos rios árticos podem criar maior incerteza quanto às futuras condições climáticas globais”, escrevem os autores do artigo. As informações também devem impactar investigações sobre ecologia, poluição e sedimentos.

Daqui para frente, com os futuros lançamentos de satélites, os pesquisadores esperam que as informações fornecidas pelo RADR sejam cada vez mais precisas. “Construímos um método e uma estrutura por meio dos quais podemos assimilar facilmente mais dados de satélite”, comenta Feng. Além disso, a equipe pretende disponibilizar o sistema publicamente para que especialistas das ciências naturais analisem outros aspectos do Ártico.

Esta matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Saiba mais em umsoplaneta.globo.com.

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