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Proliferação de plantas na Antártida evidencia os impactos do aquecimento global

Recentes registros fotográficos identificaram a proliferação das duas angiospermas nativas da Antártida, a erva-pilosa-antártida (Deschampsia antarctica) e a pêra-da-antártida (Colobanthus quitensis), ao longo do território do continente gelado. Aliado a isso, pesquisadores da Universidade de Washington registraram aumento significativo na temperatura média do local. Os fatores evidenciam o impacto do aquecimento global no continente.

Mariana Cabral de Oliveira, professora do Instituto de Biociências da USP, explica os motivos pelos quais a proliferação de plantas no continente gelado é rara e analisa os impactos do aquecimento global na biodiversidade do continente gelado. 

Falta de variedade de plantas

De acordo com a especialista, o clima extremo é o principal responsável pela ausência de variedade de plantas no continente, já que os organismos fotossintetizantes necessitam da luz solar para produzir seu próprio alimento. Ela explica que o território é outro fator determinante, pois apenas 2% do continente não é coberto por gelo ou neve, limitando a quantidade de substratos necessários à sobrevivência dos organismos.

Mariana Cabral de Oliveira – Foto: Arquivo pessoal

Segundo a professora, apesar do clima frio, a Antártida abriga também outros organismos fotossintetizantes diferentes daqueles que são observados no cotidiano, em jardins e florestas, os quais são chamadas de plantas vasculares ou angiospermas.

“É um ambiente muito inóspito, mas, além dessas duas angiospermas, existem outros organismos na Antártica, como algumas centenas de espécies de musgos, que são plantas não vasculares e de menor porte, e existem também os chamados líquens, que fazem fotossíntese, mas não são normalmente chamados de  plantas. Enfim, existem também algas que ocupam o ambiente terrestre, então, além dessas duas angiospermas, que são plantas que têm flor, existem mais algumas centenas de espécies de organismos fotossintetizantes, que vão desde as algas e líquens aos musgos”, afirma.

Impactos do Aquecimento global

Em 18 de março de 2022, pesquisadores da Universidade de Washington, nos EUA, registraram um aumento de temperatura de cerca de 39ºC acima da média no Domo C, Planalto Antártico, conhecido como o lugar mais frio da Terra. O local, que possui temperatura média de -50ºC, chegou à marca de 11,5°C abaixo de zero, levando o cientista-chefe da organização de análises climáticas Berkeley Earth, Robert Rohde, a dizer que: “Parece ter sido estabelecido um novo recorde mundial para o maior excesso de temperatura acima do normal já medido em uma estação meteorológica estabelecida”.

Para Mariana, a proliferação de plantas, juntamente com as mudanças climáticas, é sinal do efeito que o aquecimento global traz ao continente. Ela alerta ainda para o risco que as mudanças climáticas, nos ambientes costeiros e marinhos, podem trazer à biota local, a partir da introdução involuntária de novas espécies aos ecossistemas antárticos, as quais podem abalar o equilíbrio natural. 

Ilana Wainer – Foto: ICTP-SAIFR

“Existe uma série de recomendações para evitar que se transfiram organismos exóticos, muitos deles chegam ali de forma acidental e não sobrevivem ao período de inverno. Mas, à medida que o ambiente vai aquecendo, ele vai se tornando mais favorável para a introdução dessas espécies”, informa.

Conforme a professora, o Tratado Antártico, assinado em 1959, define uma série de regulamentações aos pesquisadores e turistas do continente, com o intuito de evitar contaminações na biodiversidade. Ela explica que as vestimentas utilizadas nas expedições precisam estar livres de sementes, líquens, musgos ou quaisquer outros organismos que possam se reproduzir no ambiente antártico.

“Os turistas e pesquisadores que visitam o local precisam seguir uma série de recomendações para evitar levar espécies exóticas involuntariamente no uniforme ou nos calçados, temos que tomar um cuidado extremo nessa questão de introdução de qualquer organismo no ambiente antártico, porque isso pode ter consequências bastante sérias para a comunidade e biota local”, conta.

Reversão

Ilana Wainer, professora de Oceanografia Física do Instituto Oceanográfico da USP, acredita que a reversão dos efeitos das mudanças climáticas na Antártida é uma tarefa difícil, mas crê que algumas medidas podem reduzir os impactos no continente. Para ela, os gases do efeito estufa emitidos pela atividade humana são os principais responsáveis pelos fenômenos de mudanças climáticas.

O investimento na pesquisa científica, segundo ela, é fundamental para que os fenômenos possam ser estudados e compreendidos para que, por fim, possam ser discutidas estratégias de mitigação de seus impactos. A especialista reforça ainda que o esforço global é importante para essa tentativa de reversão dos efeitos, a qual, mesmo complicada, pode reduzir os efeitos climáticos a longo prazo. 

“Então, certamente é possível diminuir esses impactos sim, principalmente a emissão dos gases do efeito estufa, e isso depende do compromisso global. A implementação rápida e eficaz dessas estratégias de mitigação e adaptação e o tempo são um fator crucial, já que muitos desses processos relacionados ao clima já estão acontecendo e podem se tornar irreversíveis, se não forem abordados imediatamente”, finaliza.

Por Julio Silva*

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira

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