Portugal cria a maior reserva marinha da Europa
Nesta segunda-feira, 6 de dezembro de 2021, um anúncio do governo português tornou a meta mundial de proteger 30% da terra e da água 2030 um pouco mais possível: Portugal criou a maior área marinha protegida da Europa.
A nova reserva protege 2677 km² em torno das Ilhas Selvagens, As Ilhas Selvagens são um subarquipélago do arquipélago da Madeira, Portugal, localizado no Oceano Atlântico.
“Quando dizemos a maior reserva marinha da Europa, é empolgante, porque realmente é um senso de liderança e ambição” comemorou Paul Rose da Pristine Seas, organização que trabalha pela preservação de ecossistemas marinhos e que que liderou uma expedição às ilhas em 2015.
Para Paul, a ação do governo português mostra que mostra que podemos de fato é possível preservar 30% dos ecossistemas na próxima década. A reserva de Selvagens “é a maior da Europa”, diz ele, “mas em escala global, é muito pequena”. Antes, a maior reserva marinha da Europa estava nas ilhas Egadi, na Sicília e tinha cerca de 335 km².
Conhecer para preservar
Pristine Seas é um projeto de exploração subaquático, fundado pelo National Geographic Explorer, que trabalha para inspirar a proteção de ecossistemas marinhos únicos por meio de expedições que documentam sua incrível biodiversidade.
Nos últimos 12 anos, o projeto percorreu 31 localidades e, desde então, 24 delas foram protegidas. Essas novas reservas cobrem uma área de mais de 6 milhões de km², mais do que o dobro do tamanho da Índia.
A história de como as Ilhas Selvagens se tornaram uma delas começou em 1971, quando a área se tornou a primeira Reserva Natural classificada da história de Portugal. As ilhas vulcânicas são em grande parte desabitadas por humanos, mas hospedam a maior colônia do mundo de pássaros marinhos Cory’s Shearwater.
De acordo com Paul, no início, as ilhas foram protegidas graças a esses pássaros. Mas, as expedições mostraram que a biodiversidade da área era impressionante, também dentro da água – foram avistadas 51 espécies de peixes, incluindo tubarões e barracudas, além de moreias.
As ilhas estão no meio do selvagem oceano Atlântico e são rodeadas por recifes de água fria. “Eu tive um mergulho incrível em um pequeno naufrágio lá, e enquanto nadava para o porão aberto, o porão de carga aberto, pude ver à minha frente centenas de milhares de peixes pequenos nadando do outro lado”, relembra Paul.
A proteção estava estabelecida até uma profundidade de 200 metros, mas este limite precisou ser ampliado para garantir proteção a diversas espécies que vivem nas encostas vulcânicas, dentro e fora da água. “A proteção inicial não incluía algumas aves marinhas, mamíferos marinhos e atuns que dependem desta importante área, com a atividade pesqueira muitas vezes ocorrendo nas proximidades da costa”, concluiu a expedição na época.
Paraíso Ameaçado
Para Paul, a pesca, a poluição e a crise climática são as principais ameaças aos ecossistemas marinhos. No entanto, ao protegê-los contra a pesca a possibilidade de sobrevivência frente às outras emaças aumenta.
“Um ambiente protegido da pesca e das indústrias extrativas se torna mais resiliente.” Paul Rose, Pristine Seas
Em última análise, as áreas protegidas podem ajudar a criar uma indústria pesqueira mais sustentável.
A pesca não regulamentada ou mal regulamentada de atum e outras espécies era um grande problema para a reserva, antes da ampliação da proteção. Mas, regras mais rígidas de proteção são também vantajosas para os próprios pescadores. Segundo Paul, quando uma área é protegida, a biomassa dentro dela aumenta por um fator de cerca de 600.
“Os peixes não sabem que estão protegidos, então nadam do lado de fora”, explica ele. Isso significa que a pesca acaba sendo ainda melhor nos limites da reserva marinha e do restante do oceano, área conhecida como “zona de transbordamento”.
As novas proteções não são boas notícias apenas para os peixes e pássaros das Ilhas Selvagens. Eles também são um sinal de que os líderes mundiais estão se movendo na direção certa para proteger 30% da terra e da água até 2030, uma meta que Rose acredita ser necessária e alcançável.
O ambientalista espera que a decisão de Portugal incentive outros países, os europeus em particular, a serem mais ambiciosos na proteção das suas águas, uma vez que atualmente estão atrás do resto do mundo. Neste sentido, o Pristine Seas tem 40 expedições planejadas nos próximos nove anos para descobrir mais candidatos à proteção. Nos próximos oito meses, Paul vai para as Maldivas em janeiro e, em seguida, seguirá para a costa atlântica e caribenha da Colômbia de fevereiro a abril, antes de viajar para o Ártico em julho e agosto.
Por Ciclovivo
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