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País perdeu 15% de faixa de areia em dunas e praias desde 1985, diz estudo

O Brasil perdeu, em apenas três décadas e meia, 15% de sua superfície de areia de dunas e praias. Um relatório com dados de 1985 a 2020 foi divulgado na última quarta-feira (27) pelo programa MapBiomas.

O estudo aponta que, entre ganhos e perdas, uma área de 70 mil hectares (equivalente a 96 mil campos de futebol de padrão Fifa) foi perdida para diversos outros tipos de uso.

Ao todo, levando em conta os 382 mil hectares de área da zona costeira, 55,8 mil foram ganhos, 223 mil se mantiveram e 125 mil se perderam. Da área que foi perdida, entre 1985 e 2020, os principais vilões foram:

  • Outras áreas não vegetadas – 45%
  • Expansão urbana – 10%
  • Outras formações não florestais – 9%
  • Formação campestre – 8%
  • Pastagem – 7%
  • Rios, lagos e oceanos – 5%
  • Silvicultura – 5%
  • Outros – 19%

Coordenador técnico do MapBiomas, César Diniz, explica que a zona costeira tem, por natureza, uma movimentação dinâmica, já que está sujeita aos efeitos das marés, fluxos hídricos e ventos. “É natural então que dunas mudem de lugar, por exemplo”, diz.

Da mesma forma, é normal também que praias encolham e, às vezes, até desapareçam, enquanto outras podem ser formadas —sem que isso tenha a ver, por exemplo, com o avanço do mar pelo aquecimento global.

“Praias e dunas têm movimentações naturais, que podem ser aceleradas pelo ser humano. Algumas se tornam maiores, outras menores. O que o nosso levantamento mostrou é que, no saldo total, houve uma redução total de 15% da superfície arenosa de dunas ou praias. Isso é sinal de alerta, especialmente quando se analisa dados de maneira localizada”, aponta.

Veja perdas, estabilidade e ganhos por estado:

MapBiomas - MapBiomas - MapBiomas
Imagem: MapBiomas

Diante dessa dinâmica, ambientes de praias e dunas podem sofrer também com obras do homem, os chamados efeitos antrópicos.

Quando se ocupa e se expande sob a borda das dunas, ou se retira a vegetação original, estamos fragilizando esse ecossistema costeiro e eventualmente acelerando suas modificações. Ganhar ou perder não é necessariamente positivo ou negativo. Mas, quando as mudanças ocorrem de forma rápida demais, o ser humano não tem como se adaptar a elas; e isso pode afetar comunidades pesqueiras, turismo e mais.”
César Diniz, do MapBiomas

Rio Grande do Sul tem maior perda

O maior problema visto está no Rio Grande do Sul, que de 1985 a 2020 teve uma perda líquida de praias e dunas de 26% (perdeu 33% e ganhou 7%). O estado possui o segundo maior cordão arenoso do país (atrás dos Lençóis Maranhenses) e, de acordo com Diniz, há dois problemas importantes.

“Lá, 14% da área de superfície de dunas foi convertida em pinheiros, plantações de característica comercial para venda de madeira. Eles se espalham com facilidade carreados pelos ventos fartos na costa do Rio Grande do Sul e são absolutamente resistentes, por isso essa expansão é preocupante. Foi o mau manejo desta atividade de silvicultura que criou o cenário atual. E temos ainda 4% de perda para áreas urbanas que se apropriam aos poucos das bordas dos cordões de praias e dunas”, diz.

O Maranhão, ao contrário, é o contraponto e foi apontado como o estado litorâneo que gera melhor sua zona costeira. “No estado, mais de 98% das dunas são protegidas. Muito por causa disso, quase não há nenhuma ação humana que tenha causado mudanças de grande escala, e o que vemos é uma grande preservação das dunas, praias e seus manguezais”, afirma.

 Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é apontado como exemplo de proteção - ICMBio - ICMBio
Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é apontado como exemplo de proteção – ICMBio – ICMBio

Para ele, a solução seria criar uma regulamentação específica para o litoral. “A zona costeira é um local que a ocupação deveria ser diferente pela sua essência. Ela é lar de comunidades tradicionais, que fazem uso de rios e sistemas costeiros.”

A forma de agir economicamente deve ser protegendo o ambiente e as comunidades tradicionais. É possível fazer um bom uso da natureza de forma sustentável para que comunidades retirem seu sustento das áreas sem destruí-las.”
César Diniz, do MapBiomas

O problema, diz, está na forma de exploração, que precisa ser controlada. “Ela não pode ser tão nociva e agressora como se tem feito hoje, por exemplo, com o caso dos pinheiros no Rio Grande do Sul. É um exemplo de como não se deve utilizar. Já o turismo nos Lençóis Maranhenses, quase sempre ecológico, deve ser visto como um exemplo do que se fazer”, finaliza.

Por UOL

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