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Oceano Ártico começou a esquentar décadas antes do esperado pela ciência

Um grupo internacional de pesquisadores reconstruiu a história recente do aquecimento oceânico com levantamentos feitos na “porta de entrada” para o Oceano Ártico, em uma região chamada Estreito de Fram, que fica entre a Groenlândia e Svalbard.

Estudo reconstruiu a história recente do aquecimento oceânico na entrada do Oceano Ártico, em uma região chamada Estreito de Fram, entre a Groenlândia e Svalbar. Imagem: Sara Giansiracusa

Com a análise de assinaturas químicas encontradas em microrganismos marinhos, os cientistas descobriram que o Oceano Ártico começou a aquecer rapidamente no início do século passado, à medida que águas mais quentes e salgadas fluíam do Atlântico – um fenômeno chamado atlantificação.

Segundo a pesquisa, essa mudança precedeu o aquecimento estimado por medições instrumentais modernas. Desde 1900, a temperatura oceânica aumentou cerca de 2ºC, enquanto o gelo marinho recuou e a salinidade aumentou.

Atlantificação influencia na variabilidade climática do Oceano Ártico

Relatados na revista Science Advances, os resultados do estudo fornecem a primeira perspectiva histórica sobre a atlantificação do Oceano Ártico e revelam uma conexão com o Atlântico Norte muito mais forte do que se pensava.

Essa conexão é capaz de moldar a variabilidade climática do Ártico, o que pode ter implicações importantes para o recuo do gelo marinho e o aumento do nível do mar global à medida que as camadas de gelo polares continuam derretendo.

A pesquisa destaca que todos os oceanos do mundo estão esquentando devido às mudanças climáticas, mas o Oceano Ártico, o menor e mais raso deles, está esquentando mais rápido que os demais.

“A taxa de aquecimento no Ártico é mais do que o dobro da média global, devido aos mecanismos de feedback”, disse o PhD em Geologia Marinha Francesco Muschitiello, professor do Departamento de Geografia da Universidade de Cambridge, coautor do estudo.

“Com base em medições de satélite, sabemos que o oceano Ártico tem se aquecido continuamente, em particular nos últimos 20 anos, mas queríamos colocar o aquecimento recente em um contexto mais longo”, explicou Muschitiello.

Embora a atlantificação seja uma das causas do aquecimento do Ártico, os registros instrumentais capazes de monitorar esse processo, como os satélites, datam de apenas cerca de 40 anos.

À medida que o oceano Ártico fica mais quente, o gelo da região polar derrete, o que, por sua vez, afeta os níveis globais do mar. Conforme o gelo derrete, a superfície do oceano fica mais exposta ao sol, liberando calor e elevando a temperatura do ar.

Esse processo leva ao comprometimento do permafrost (ou pergelissolo) – tipo de solo encontrado na região do Ártico – que armazena grandes quantidades de metano, gás de efeito estufa reconhecidamente mais prejudicial do que o dióxido de carbono.

Limitação de ferramentas de monitoramento dificultou precisão dos dados

Os pesquisadores usaram dados geoquímicos e ecológicos de sedimentos oceânicos para reconstruir a mudança nas propriedades da coluna de água nos últimos 800 anos. Eles dataram os sedimentos com precisão usando uma combinação de métodos e buscaram sinais diagnósticos de atlantificação, incluindo a mudança de temperatura e a salinidade.

“Quando olhamos para toda a escala de tempo de 800 anos, nossos registros de temperatura e salinidade mostram bastante constância”, disse outro coautor do estudo, o biogeoquímico Tesi Tommaso, do Instituto de Ciências Polares do Conselho Nacional de Pesquisa em Bolonha. “Mas, de repente, no início do século 20, você percebe que essa mudança marcada na temperatura e salinidade realmente se destaca”.

“A razão para essa rápida atlantificação no portal do Oceano Ártico é intrigante”, disse Muschitiello. “Comparamos nossos resultados com a circulação do oceano em latitudes mais baixas e descobrimos que há uma forte correlação com a desaceleração da formação de água densa no Mar de Labrador. Em um cenário de aquecimento futuro, a circulação profunda nessa região subpolar deverá diminuir ainda mais em razão do derretimento da camada de gelo da Groenlândia. Nossos resultados sugerem que podemos esperar mais atlantificação do Ártico no futuro devido às mudanças climáticas”.

Esse resultados, segundo os cientistas, também expõem uma possível falha nos modelos climáticos, por não reproduzirem essa atlantificação inicial do início do século passado. “As simulações climáticas geralmente não reproduzem esse tipo de aquecimento no Oceano Ártico, o que significa que há um entendimento incompleto dos mecanismos que impulsionam o evento”, disse Tommaso.

Eles contam com essas simulações para projetar mudanças climáticas futuras, “mas a falta de quaisquer dados que sinalizassem um aquecimento precoce no Oceano Ártico era uma peça que faltava no quebra-cabeça”, afirmou.

Por Olhar Digital

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