Mexicano transformou algas invasoras em tijolos sustentáveis
Praias paradisíacas podem se tornar um lugar ruim para turistas quando são invadidas por sargaço, algas castanhas do gênero Sargassum C. Agardh com distribuição tropical e subtropical em todos os oceanos. Na Riviera Maya, no México, elas eram consideradas um grave problema, mas Omar Omar de Jesús Vazquez Sánchez viu nestas algas a matéria prima para construir casas – ele transformou o sargaço em tijolos sustentáveis.
Se for deixado nas praias, o sargaço emite um cheiro muito forte e desagradável que afasta os turistas e gera um prejuízo enorme para os governos e comunidades locais. Retirar este material das praias é um grande desafio – em Cancun o governo já chegou a enviar 40 mil toneladas destas algas para aterros sanitários. Mas, com a criação da SargaBlock, Omar não só deu um destino melhor para o material, como gerou empregos e deu às pessoas no México a possibilidade de construir a casa própria gastando menos.
Uma lição de vida
Omar e sua família passaram por dificuldades financeiras e imigraram para os Estados Unidos quando ele ainda era uma criança. Lá ele descobriu que o famoso “sonho americano” estava longe se ser uma realidade. Largou os estudos para trabalhar como jardineiro, depois teve problemas com drogas. Deu a volta por cima e manteve sempre viva a ideia de voltar para o México.
Foi quando ficou sabendo que nas praias da Riviera Maya o sargaço havia se tornado um problema e que precisavam de pessoas que retirassem as algas das areias. Ele voltou e decidiu que, mais do que limpar as praias, daria um destino melhor para o que havia encontrado.
Em uma entrevista ao Christian Science Monitor, ele contou como a sua experiência pessoal ajudou a dar outra perpectiva ao que muitos acreditavam sem um problema sem solução. “Quando você tem problemas com drogas ou álcool, você é visto como um problema para a sociedade. Ninguém quer nada com você. As pessoas simplesmente desviam o olhar”, explica. “Quando o sargaço começou a chegar, criou uma reação semelhante. Todo mundo reclamava, mas eu queria fazer algo bom a partir de algo que todos viam como ruim.”
Foi assim que as algas se tornaram um material de construção, de casas e de novos destinos, fornecendo trabalho para cerca de 300 famílias. Desde 2021 mais de 6 mil toneladas de sargaço foram retiradas das praias. As algas são matéria prima para tijolos feitos de 40% de sargaço e 60% de outros materiais orgânicos. A produção começou em uma máquina usada para construção de tijolos de adobe, com capacidade de produzir mil blocos por dia.
Depois de passarem pela máquina, os tijolos ficam no sol por cerca de 4 horas e já estão secos e prontos para serem usados. A primeira casa construída com os tijolos de alga recebeu o nome da mãe de Omar, Angelita, e mostrou que era possível oferecer moradias de baixo custo e qualidade para as comunidades locais.
Uma casa de sargablocks tem durabilidade de 120 anos e custa cerca US$ 7,7 mil – algo em torno de R$ 38,5 mil. Com a sua empresa, Omar quer solucionar um outro grande problema: a falta de moradia para as pessoas mais pobres de seu país. Por isso, além de comercializar os tijolos, a ideia é doar casas à medida que a SargaBlock prospere.
Depois que os tijolos foram aprovados o uso na construção civil, Omar já doou 14 “Casas Angelitas” para famílias carentes. “Quero ter a melhor empresa do México que pague os melhores salários. Dessa forma, as pessoas não precisam cruzar a fronteira e arriscar suas vidas como nós fizemos”, conta ele.
Apoio e reconhecimento
Por oferecer soluções ambientais e sociais, a SagarBlock foi selecionada pelo Programa de Desenvolvimento da ONU para um laboratório de aceleração e a empresa foi apresentada para diversos países no mundo. A ideia é que, ao compartilhar a visão de Omar sobre o problema do sargaço no Caribe, isso inspiraria outros a agir de maneira semelhante.
Como parte de seu compromisso de apoiar a inovação local no combate às mudanças climáticas, o PNUD México está financiando Omar para comprar uma segunda máquina para fabricar os tijolos de algas e trazer mais funcionários locais para sua pequena empresa.
O reconhecimento vem do fato de que, além de encontrar uma solução onde muitos só enxergavam um problema, Omar não tem como objetivo gerar apenas lucro, mas levar oportunidade para as pessoas de seu país, oportunidade de trabalho e geração de renda e a oportunidade de ter a tão sonhada casa própria.
Por Ciclovivo
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