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Cada um produz meio Titanic de lixo na vida; como mudar o nosso consumo?

“Produzimos cerca de um quilo de lixo por dia. Se vivermos uma média de 75 anos, o volume chegaria a 27 toneladas, o equivalente à metade do navio Titanic”, reflete Peri Pane, que usa performances para criar um olhar crítico sobre a geração de resíduos, ao abrir o segundo dia do seminário “FRU.TO: Diálogos do Alimento”.

Idealizado pelo chef Alex Atala em parceria com o pesquisador e produtor Felipe Ribenboim, o evento chega à sua terceira edição e tem o consumo e a geração de resíduos como tema central neste sábado (25).

Peri Pane realiza a performance “Homem Refluxo”, em que guarda o lixo produzido durante uma semana em uma roupa com bolsos para estimular a consciência da população.

O diálogo, iniciado pelo artista, seguiu ao longo do dia. Ana Paula Bortoletto, pesquisadora do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), segunda a palestrar, levou ao evento o debate sobre o que consumimos – principalmente sobre os alimentos ultraprocessados.

“Há uma grande influência do marketing para a venda de produtos industrializados para a população mais vulnerável, barateando o que não é saudável, e mudando a forma como as pessoas consomem”, explica.

As escolhas saudáveis acabam sendo as opções mais caras, não têm uma forte propaganda, nem estão disponíveis como estão os alimentos industrializados” Ana Paula Bortoletto, pesquisadora do Idec.

Para onde vai o nosso lixo?

Nina Orlow, representante da Aliança Resíduo Zero Brasil no seminário, voltou a ressaltar a importância da gestão de resíduos sólidos, principalmente para os mais ricos.

“O mundo é desigual também na geração de resíduos: 83% do que é produzido no mundo, é consumido por 20% da população do mundo. Os outros 17% são divididos entre 80% da população. Precisamos lembrar de quem é a responsabilidade pela redução do lixo”, afirma.

Ao comentar sobre a lei de resíduos sólidos, ela lembra que faz parte do processo, principalmente como ação dos governos, a criação de políticas de educação ambiental. Às empresas, ela cobra: “É preciso ter um gerenciamento dos resíduos. E nós todos devemos cobrar”.

O melhor tipo de resíduo é aquele que não é gerado” Nina Orlow, representante da Aliança Resíduo Zero Brasil.

No avanço do debate, Roberto Rocha, catador de materiais recicláveis e presidente da Associação Nacional de Catadores e Catadoras, defendeu a valorização do trabalho de quem trabalha na ponta para a reciclagem.

Se não fosse o nosso trabalho como catadores, muitos lixões e aterros estariam em tempo de vida esgotados” Roberto Rocha, catador de materiais recicláveis.

“A nossa escola de coleta seletiva e reciclagem, é uma escola do dia a dia. Eu não sabia nem o que era cadeia de reciclagem. Quando falava em cadeia, eu dizia: ‘Eu não quero isso aí'”, brinca, ao explicar como foi se aprimorando no trabalho com a reciclagem.

Nina Orlow defende que melhor resíduo é aquele que não é gerado Imagem: Reinaldo Canato/Divulgação.

Roberto foi um dos precursores na luta pelo fim dos lixões, do trabalho infantil com o lixo e da categorização do trabalho de cooperativas. “É um trabalho anônimo, mas muito necessário.”

Palestraram no evento, ainda, Cintia Tiemi Kita, da Triciclos, que falou sobre economia circular, o rapper Thaíde, do Recicla Samba, Lucas Araujo, da International Paper, que comentou sobre o papel e a sustentabilidade na indústria, além de Paula Costa e Valter Ziantoni, do Petaterra. Eles explicaram sobre os sistemas de cultivo para novas gerações.

Juventude engajada

Os últimos dois painéis do seminário “FRU.TO: Diálogos do Alimento” trouxeram para o debate a juventude. Os primeiros a palestrarem no evento foram Lia Goes e Alexandre de Moura Feriance, da Cooperapas.

A cooperativa leva jovens das gerações Y e Z de volta à agricultura. Alexandre, por exemplo, tem 20 anos e trabalha como auxiliar agrícola no sítio Fazendinha Pedaço do Céu. Filho, neto e bisneto de agricultores, ele defende uma nova visão no cultivo da terra.

“Eu costumo dizer que meu filho é o louco mais novo para contribuir com a agricultura orgânica. Essa loucura é boa porque, além de levar alimentação saudável para São Paulo, a gente está levando para o mundo água limpa, ar puro e um conceito. E hoje há muitos loucos para fazer o melhor pelo Brasil e pelo mundo” Lia Goes, da Coopercaps.

Paloma Costa, do Engajamundo, encerra o ciclo de palestras comentando como os jovens estão atuando para conter a crise climática por meio de ações em diversas frentes. “Vamos pensar no movimento de juventude pelo mundo. A gente só tem voz porque estamos fazendo juntos. Não soltamos a mão de ninguém e, nesta união, conseguimos mudar muita coisa”, diz.

Estamos vivendo um colapso. Estamos vivendo uma crise em todas as esferas e todos os níveis. Ouço dizerem que o futuro é dos jovens, mas a gente quer ser incluído nos processos agora, queremos mudar hoje, pois, amanhã, que planeta restará para nós? Nós, jovens, viemos para fazer parte das tomadas de geração” Paloma Costa, do Engajamundo.

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